A metalurgia do pó presente em nossos automóveis

Esta é a segunda matéria a ser publicada sobre a Metalurgia do Pó (M/P) na revista IH. Na matéria da edição passada falamos sobre a vantagem frente a outros processos de fabricação de peças seriadas. Nesta edição e nas próximas falaremos sobre as aplicações desta tecnologia em diferentes produtos e mercados, assim como citaremos exemplos de conversão de outros processos para o sinterizado.

Um dos maiores consumidores de peças sinterizadas é a indústria automobilística. Aproximadamente 70% do pó metálico produzido mundialmente tem este mercado como destino e no Brasil esta proporção não é muito diferente.

Estas peças estão presentes nos motores em capas de mancal, bielas, lóbulos de came, rotores de bomba de óleo, cubos de polia em bombas de água, assentos e guias de válvula, engrenagens de correias sincronizadoras, dentre outras. Na caixa de câmbio encontramos garfos de mudança, anéis sincronizadores e mais recentemente as engrenagens. As peças sinterizadas também estão presentes na suspensão e sistema de freios dos veículos, nos pistões, válvulas e guias de amortecedor, nas pastilhas de freios e nos anéis de sensor ABS. Motores elétricos, sistemas de ventilação e a direção hidráulica são mais alguns dos sistemas que contém peças sinterizadas.

Pelos exemplos apresentados pode-se ver que a peça sinterizada é largamente utilizada em componentes de grande precisão e alto compromisso com a segurança, como no sistema de freios e amortecedores dos veículos.

Existe, porém, um fato mercadológico que chama a atenção em nosso país: enquanto que no Brasil a média é de 5.5kg de peças sinterizadas por veículo, a média européia e japonesa beira os 11kg e a americana chega a 19kg por veículo. Existem três fatores que fortemente influenciam estes números:

1- Grau de sofisticação dos veículos: O mercado externo é mais exigente e o acesso a itens de conforto é facilitado por custos mais baixos. Itens como direção hidráulica, trio-elétrico, ar condicionado, câmbio automático, dentre outros, são importantes aplicações para peças sinterizadas.

2- Cultura: O maior exemplo está nas bielas automotivas. Enquanto que mais de 60% do mercado mundial de motores é abastecido por bielas sinter-forjadas, o mercado brasileiro é 100% abastecido por bielas convencionais forjadas. Existe, pois, uma resistência do mercado nacional em converter seus produtos para esta tecnologia, e isto deve-se principalmente a…

3- Conhecimento: No Brasil, nossos estudantes recebem uma bagagem considerável de informações sobre fundição, estamparia, usinagem… Mas praticamente nada sobre M/P.

Nos últimos anos temos presenciado movimentos buscando reverter esta situação tais como a criação do site da Rede Cooperativa de Metalurgia do Pó (www.recompo.com.br) onde pode-se obter material didático gratuito e informações sobre empresas e universidades que trabalham com esta tecnologia no Brasil. Além disto, empresas ligadas à área uniram-se para formar o Grupo Setorial de Metalurgia do Pó (www.metalurgiadopo.com.br) cuja missão é levar o conhecimento da M/P às universidades e empresas. Este Grupo tem participado de feiras de negócios pelo país, assim como tem apresentado palestras e cursos em universidades e escolas técnicas. Além disto, visando suprir a carência de informações sobre este assunto na língua portuguesa, publicou um livro em que 25 autores, dentre eles professores de universidades e institutos de ponta, assim como profissionais de empresas de M/P, passam informações importantes sobre este processo, seu potencial e suas aplicações.

Como já citado na edição anterior, este processo tem grande potencial de aplicação também em outras indústrias de produtos seriados tais como eletrodomésticos, ferramentas elétricas, compressores herméticos, dentre outras. Além do grande aproveitamento de matéria prima (acima de 95%), é um processo de baixo impacto ambiental.

Cabe a nós, engenheiros e dirigentes de nossas empresas, a responsabilidade de buscar alternativas economicamente vantajosas aliadas a soluções de baixo impacto ambiental e, certamente, o processo de Metalurgia do Pó pode atender a esta demanda.

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