Carlos Paulo Rauscher

Apesar de ainda carregar no sotaque estrangeiro, Carlos Rauscher nasceu no Brasil. Mais precisamente na cidade de Campinas, interior de São Paulo, em 1923. Hoje, aposentado, Rauscher foi por mais de 35 anos diretor técnico da Brasimet, em sua época a maior empresa de prestação de serviços de tratamentos térmicos, fabricação de fornos e de sais de tratamentos térmicos da América do Sul. Seu comando foi fundamental para que a empresa assumisse a identidade de liderança no mercado de tratamento térmico no Brasil, sendo reconhecida mundialmente como marca de qualidade nos serviços e produtos da área térmica por ela fornecidos.

Sua rica história começa quando seu pai, nascido na Áustria e membro da marinha austríaca, ficou desempregado após o fim da Primeira Guerra Mundial. Com a dissolução do império Austro-Húngaro, a Áustria perdeu o acesso ao mar, o que levou à extinção da marinha. Depois de algumas tentativas de trabalhar em países vizinhos, decidiu emigrar para a América do Sul e, por motivos desconhecidos, estabeleceu-se em Campinas. Trabalhou com irrigação em fazendas da região e depois em represas, na área de eletrificação.

Veio a casar-se na cidade e, com auxílio do sogro, iniciou uma empresa de fabricação de acumuladores automotivos, também conhecidos como baterias. Carlos conta que, em 1926, quando tinha 3 anos, o pai visitou fornecedoras de equipamentos para o seu negócio na Europa. Porém, sua empresa passou a sofrer com a forte concorrência de fabricantes americanos no Brasil e acabou encerrando as atividades.

Com o passar dos anos, durante a década de 1930, a Alemanha experimentava grande desenvolvimento. A Áustria havia sido anexada ao país e o pai de Carlos, como ex-militar, foi novamente convocado e integrado à marinha. Sua mãe havia falecido no Brasil em 1931, deixando seu pai viúvo e, em 1938, ele embarcou com o filho de volta à Europa, onde vislumbrava maior chance de prosperar. Carlos, então com 16 anos, fez curso técnico que o introduziu às bases do tratamento térmico, em Berlim, onde moravam.

Após o fim da guerra, não encontrou mais o pai e voltou ao Brasil, em 1946. Com os conhecimentos técnicos adquiridos na Alemanha, começou a trabalhar como desenhista projetista na empresa Elevadores Atlas, pertencente então ao Grupo Villares, onde permaneceu por cerca de 4 anos. Foi nessa época que conheceu sua esposa, a quem trata carinhosamente por Dona Jandyra. E, ainda como namorado, um dia foi apresentado ao vizinho do pai de Jandyra, que estava no Brasil como delegado da Böhler, empresa austríaca fabricante de aços.

Algum tempo depois, este mesmo vizinho, agora já dirigindo o departamento de aços na Brasimet, lembrando da conversa que teve com Carlos, o convidou para ser seu assistente. Carlos aproveitou 30 dias de férias que tinha na empresa onde trabalhava e aceitou a proposta em caráter de experiência de um mês. Gostou e iniciou na Brasimet em 1950. A empresa foi fundada em 1942 como Importadora e Exportadora de Metais Brasimet S. A., pelo Grupo Maurício Hochschild, que era atuante na mineração e comércio de metais, tendo várias empresas na América do Sul, em países como Bolívia, Argentina, Chile, Peru e Brasil.

Em 1945, a Brasimet iniciou a comercialização de aços-ferramenta como representante no Brasil da empresa sueca Soederfors. Em 1946, instalou o seu primeiro tratamento térmico para terceiros no bairro do Ipiranga, em São Paulo, com fornos a banho de sal importados dos Estados Unidos. Foram importados os primeiros fornos a banho de sal da Degussa AG (Alemanha) em 1951, para venda ao mercado brasileiro. Os sais eram inicialmente fabricados pela firma Bragussa, pertencente ao Grupo da Degussa. Posteriormente, foram fabricados pela Brasimet, sob licença da Degussa, em um galpão da Rua dos Inocentes, no Bairro do Socorro.

Com o desenvolvimento da indústria siderúrgica no Brasil e a abertura de revendas no país das principais siderúrgicas europeias, a concorrência ficou cada vez mais acirrada e especializada. A empresa foi, aos poucos, substituindo sua atividade de importadora de aços pela fabricação e importação de fornos, aliada à prestação de serviços de tratamento térmico. Com os bons conhecimentos na área, adquiridos no curso de aprendizagem de mecânica efetuado em Berlim, Carlos Rauscher cada vez mais adquiria importância e se tornava peça- chave dentro da organização, contribuindo para sua consolidação.

Com a falta de divisas, o país restringia as importações. Rauscher recorda que visitou a Degussa, na Alemanha, a fim de negociar a possibilidade de concessão da licença para fabricação pela Brasimet e, assim, em 1953, a empresa iniciou a fabricação de fornos industriais no Brasil. A Degussa queria, na Brasimet, alguém que conhecesse a parte mecânica na área de fornos. Rauscher lembrou-se de um jovem que havia conhecido na Elevadores Atlas, Armin Wiederin, cujo pai tinha uma oficina mecânica no interior de São Paulo e, devido a isso, tinha bons conhecimentos de mecânica. Trouxe, então, Armin como segundo funcionário da seção de fornos, onde atuou na área de projetos e fabricação de fornos.

No entanto, o segundo funcionário da Brasimet, conforme Rauscher, foi Walter Pugliesi, a quem chama de Waltinho. Waltinho era office boy do grupo no escritório da Praça da República e queriam transferí-lo para Santo Amaro, onde a empresa havia comprado galpões para a Seção de Aços e Forno. “Mas a gente sempre gostou do Waltinho e pedimos para ele ficar”, recorda Rauscher. Walter Pugliesi permaneceu mais de 50 anos trabalhando na Brasimet, onde ingressou em 1952, dirigindo equipes de venda até se aposentar pela empresa.

Em 1954, a empresa adquiriu um terreno de 30.000 m² no Distrito Industrial de Jurubatuba, em Santo Amaro, São Paulo, na margem da então futura Avenida das Nações Unidas. Foi nessa época em que o Sr. Franz Sommer se juntou à equipe da empresa, a convite de Carlos Rauscher. Ele trabalhava no departamento térmico da empresa Styria Stahl, em Viena, na Áustria, tendo feito estágio na Degussa, na área de tratamento térmico em Hanau, Alemanha. Rauscher sabia que, na Áustria, Sommer trabalhava longe de casa, onde estava sua família, fato este que o desagradava. Assim, em uma conversa, fez-lhe o convite para trabalhar no Brasil. Sommer aceitou, tendo desembarcado no país no mesmo ano, junto da esposa Helena e do filho. Trabalhou no tratamento térmico da Brasimet, onde permaneceu até a sua aposentadoria como diretor da Divisão de Tratamentos Térmicos, no início dos anos 1990. Veio a falecer em 2012.

Na Brasimet, em 1956, foram construídos os primeiros galpões na nova área, que abrigariam os depósitos de aços e a fábrica de fornos. Em 1962, Karlheinz Pohlmann foi admitido na Alemanha para trabalhar como metalurgista na Brasimet. Ele havia sido contatado pela Degussa a mando da Brasimet, e foi contratado também por Carlos Rauscher.

Foi em 1964 que começam a ser firmados os primeiros contratos de transferência de tecnologia na área de fornos industriais com empresas alemãs para fabricação no Brasil. Rauscher foi crucial neste processo e recorda algumas empresas fabricantes de fornos na Europa com as quais negociou contratos de licenciamento: Braun Angott, Herdieckerhoff, Mahler, Gautschi, LOI, entre outras. Em 1965, teve início a fabricação de sais para tratamento térmico sob licença da Degussa-Durferrit Alemanha. Já em 1968, é transferido o tratamento térmico do Ipiranga para Santo Amaro.

Após ser sucedido por Karlheiz Pohlmann como principal executivo da Brasimet, em 1982, Carlos Rauscher seguiu como membro do Conselho de Administração por mais 4 anos, quando se aposentou. Pecuarista, mora em São Paulo e Uberlândia com a esposa.

Referência

[1] http://www.metaltrend.com.br/nossa-historia.html (sucessora na área de fabricação de fornos e equipamentos da Brasimet).

 

Informações biográficas e/ou curriculares do Udo aqui.

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