O estado da arte da pesquisa industrial na área dos fabricantes de autopeças

Udo Fiorini, editor desta revista, convidou-me para criar uma coluna nesta conceituada publicação, aliás, para todos nós Siderurgistas, portadora de um sugestivo título “Industrial Heating”. Para que eu pudesse me entrosar com as diretrizes da revista, nosso editor teve a gentileza de me enviar as três últimas edições da mesma. Após uma imediata leitura geral, em primeiro lugar constatei que já existem cerca de nove colunistas colaborando com a revista, tal como foram apontados no índice dos assuntos que desenvolveram, como se pode ver na página 8 da edição Jul a Set 2012. Foi bom ler primeiro estas páginas. Terei o maior prazer para somar meu trabalho a esta iniciativa da revista.

Vejo então este convite como mais um passo julgado oportuno por seu editor. A revista, pelo que pude assimilar, tem um conteúdo sempre diversificado, assim constatei nos três exemplares que recebi. Pretendo então observar o pulsar da PI (Pesquisa Industrial) no setor siderúrgico como um todo, e em particular no setor de Autopeças, pois os artigos técnicos que têm sido publicados demonstram um grande avanço neste terreno. Para seus leitores isso já é conhecido, mas é interessante observar como o conteúdo da revista é oxigenado de forma permanente, noticioso e cheio de informações. Passarei então a ser um deles, um observador analisando o crescimento da PI no setor, não apenas espacialmente, mas principalmente, qualitativamente, tendo em vista o interesse que isso desperta, pois demonstra ao setor comprador de autopeças a excelência do estado da arte da PI nas empresas que as produzem.

Empolgado aos poucos com este dinamismo desta publicação, e conversando ainda mais recentemente com Udo Fiorini, informei que o assunto que eu gostaria de abordar seria então em torno da história da siderurgia brasileira, com ênfase na PI. Assim estarei me inserindo nos objetivos da revista, sem destoar do excelente tom com o qual contribuem os profissionais do setor, com um nível técnico muito avançado.

Vale ressaltar que todas as revistas, de uma forma ou outra, exibem anúncios. Foi interessante observar os anúncios publicados na Industrial Heating e concluir que são fruto do trabalho de quem realmente entende do que está vendendo, seja na PI ou na condução e pesquisa sobre os processos que darão o tratamento final às autopeças. Ao folhear a revista, os anúncios revelaram que a PI foi de fato usada para projetar e construir estes equipamentos, entrosadas com as pesquisas que geraram tecnologias e técnicas nas fábricas de autopeças. Apreciei muito, em particular, dois artigos técnicos; um sobre refratários e outro dissertando sobre a siderurgia, porque foram ao encontro da experiência de minha formação.

Com sua coluna em uma das suas edições, Udo Fiorini informou aos seus leitores que um novo Pioneiro colaboraria com a revista, e ele mesmo mencionou que eu pendia mais para tratar desta minha predileção, pela PI. A propósito, ofereci à biblioteca da revista um exemplar de minha dissertação de mestrado no HCTE/UFRJ (História das ciências e das técnicas e epistemologia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro), sobre a história da pesquisa na siderurgia, registrada no final da coluna [1], bem como uma cópia digital do documento. Aliás, esta colaboração com a revista será para mim uma nova fonte de saberes e um grande apoio intelectual para ser uma das alavancas de um doutorado em andamento. Este ambiente da revista trará consigo uma adicional oxigenação de ideias, e assim agradecer ao seu editor e dizer que a oportunidade de colaborar com esta publicação veio em boa hora.

Com muita satisfação estudarei em particular a história da PI na área de produção de Autopeças, um trabalho à parte, que posteriormente buscará um ninho apropriado, de forma a uni-la com a memória da PI na Acesita (Companhia de Aços Especiais Itabira), onde ingressei na década de 50. Além de produzir o aço especial para o setor de Autopeças, a empresa também supria os fabricantes de motores elétricos, com as chapas de aço silício de grão orientado, e em muitos casos esboços de peças de aço, como virabrequins, produzidos em sua forjaria. O aço inox foi produzido fora de hora, a demanda só viria mais adiante. Tendo em vista que a IH tem como principal objetivo expor a pujança do setor de autopeças, lutar por ele quando necessário e sempre divulgar os os avanços tecnológicos e técnicos por parte de seus membros. Udo Fiorini disse muito bem algo assim nesta linha, na coluna Tecnologia, assunto que também me é muito caro, na página 12 (edição Abr a Jun 2012). Enfim, as colunas já provaram que em si são necessárias, e cada uma busca um nicho próprio. Tal como em meu caso, que se baseia no fato de que se não conhecemos a nossa história da PI, então, como falar das qualidades do produto final pelo uso da mesma. Aliás, as empresas do setor já devem estar conscientizadas de que já estão escrevendo a história de amanhã.

Agradeço a Udo Fiorini por sua confiança, já amigavelmente demonstrada. Espero que os leitores se acostumem um pouco com quem já pegou este trem do progresso crescendo razoavelmente, nos idos da década de 50 do século passado, em um país ainda pouco industrializado. Passando a outro ponto, vamos deixar prudentemente o início mesmo das discussões que a coluna apresentará na próxima edição, mas uma previsão do tempo sempre ajuda. Como peixes de um cardume, os engenheiros sempre procuram a verdade. O engenheiro deve antes de tudo ter a noção do que uma coisa é falar afirmativamente, consciente sobre o que aprendeu a fazer, como se isso bastasse. Mas isso é somente uma base, então ele deve preferir progredir com suas pesquisas, para ser categórico, cada vez mais, em sua carreira profissional. Além disso, não esquecer que no meio de nossas atividades, as tempestades econômicas surgem sem maiores previsões. As manobras no mercado mundial de aço estão cheias de correntes competidoras que se digladiam duramente. No nosso próprio país estas refregas locais existem, e acho que nisso sou doutor. Entre outros confrontos, lembro bem o que era o tempo “em que todos gritavam e ninguém tinha razão”, um pensamento que descreve fielmente a época em que o detestável CIP (Controle Interministerial de Preços) funcionava a todo vapor. De qualquer maneira assim é que finalmente cheguei aqui, são e salvo, para colaborar com a IH. Meu lema agora é “Quem conhece o passado entende melhor como resolver os problemas do presente. Então ele visualiza o futuro com mais lucidez, sem exageros”. Finalizando, neste primeiro ensaio nesta coluna, não esqueci as coisas boas, e os exemplos seriam muitos, então por aí vão três que merecem ser para sempre lembradas.

A POLI, Escola Polytechnica, foi fundada em São Paulo, em 1893. Paula Souza [2], seu idealizador e fundador, criou nela um Gabinete de Materiais. Nele trabalharam os pesquisadores da POLI, evolucionando sempre, então, desligaram-se da mesma em 1899 e ali perto fundaram o futuro IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), ainda com o nome de Gabinete de Materiais. Ali na POLI também teve início um centro de pesquisas de fundição, por muitos anos. Sabe-se também que Paula Souza preconizava desde então o que aprendera na Europa, e quem relatou isso foi o grande pesquisador de Mecânica dos Solos, Milton Vargas, formado na POLI, que era “Aulas pela manhã, e laboratório à tarde” [1].

Assim é bom divulgar que na década de 50 não estávamos mais numa ilha cercada intelectualmente por nuvens cinzentas. O IPT tornou-se um ícone para nós siderurgistas. A Pesquisa Industrial tevê suas raízes pelas mãos dos engenheiros ingleses que vieram com Mauá, para trabalhar na construção das suas ferrovias, conhecendo a PI que vigia na Inglaterra, desde que Henry Bessemer patenteou seu processo de fabricação de aço, em 1856. Outro fator de progresso foi a atitude de membros do IPT que saíram do Instituto para criar a ABM (Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração), entidade à qual pertenço, com muito orgulho de ser sócio da mesma, desde 1956. Falarei muito mais sobre a Acesita, na próxima coluna, minha alma mater, porquê ali sosseguei com o direcionamento de minha carreira, operávamos um conversor Bessemer, e isso traz muitas histórias à tona. Só depois do fim da 2ª Guerra Mundial veio o LD (conversor ou processo LD – Linz Donawitz, nome das duas cidades da Áustria onde foram utilizados primeiramente em 1952/3). Este primeiro contato com os leitores, logo se pode ver, está divulgando pequenos esclarecimentos, pois sou da velha guarda, com os pés ainda fincados no setor, como consultor, e assim pude conhecer exatamente a mais velha guarda, quando a Belgo Mineira trouxe oxigênio à siderurgia que nascia, fabricando aço no Brasil. Amaro Lanari Júnior foi mais tarde presidente da Acesita, quando nela ingressei, por isso passei pela escola dele, que preconizava o uso da PI, para crescer e formar raízes.

Permitam então que me apresente melhor. Fiz um Mestrado entre 56 e 58, em Metalurgia, com ênfase na área de Refratários, pela falta quase absoluta de especialistas em refratários no Brasil. Isso se passou em Rutgers, Universidade Americana fundada em 1776, cujo titulo é “The State University of New Jersey”, em New Brunswick, na Pensilvania, EUA. No centro de pesquisa que ali existia na época, foi desenvolvida a ogiva refratária com alta-alumina, permeável aos sinais eletrônicos dos aparelhos de navegação dos foguetes terrestres de longo alcance. Recentemente estive lá e encontrei tudo mudado. No edifício de química e de seus laboratórios, onde estudei, hoje só se pensa em nanotecnologia. Falarei também sobre como começaram, na década de 50, a São Caetano, a Magnesita e a Togni, que eram três jovens empresas desabrochando, e a AREMINA, que trabalhava mais para fornecer refratários às fábricas de vidro. Estamos no século XXI e tudo isso pode produzir muita história. Mas a que queremos contar é positiva, criada pelos que construíram os alicerces da PI. Na realidade sempre falo em nome de uma dobradinha, firmada pelos engenheiros de produção e os engenheiros de Pesquisa Industrial. Embora simplificadamente, o problema de quem produz o aço é o campo de ação do pesquisador. O acerto deste último, preferencialmente com muita inovação, será a solução de quem produz, e com isso ganhar e manter mercados. E assim temos um perene processo de trabalho com a PI, que em si sempre será circular. IH

Referência

1. “A História da fabricação do ferro no Brasil, desde 1550, e a importância da pesquisa industrial para a produção de aço, após 1922” – HCTE/UFRJ (História das Ciências e das Tecnologias, e Epistemologia – UFRJ);
2. Professor, Doutor, Antônio Francisco de Paula Souza (1843-1917). Ler a Fonte “Escola Politécnica – Cem anos de Tecnologia Brasileira”, existente na Biblioteca da USP, São Paulo, SP.

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