O negócio Brasil

Sempre correndo atrás. Essa é a incômoda posição em que nos encontramos frente aos países que por décadas andam à frente. Nesse cenário, o que fazer para promover mudanças? Leis e programas de iniciativa pública são suficientes? No meu caso, desenvolvi o doutorado com o apoio de um programa conhecido como “sandwich”, incluindo em sua metodologia um período de pesquisas em universidades estrangeiras. Orientado no Brasil pelo Prof. Paulo Roberto Cetlin e em Ohio, EUA, pelo Prof. Taylan Altan, eu regressei e hoje busco seguir cumprindo com o meu papel de retornar o investimento em mim empregado pelo governo à sociedade brasileira.

Não seria correto dizer que inexistem interações entre empresas e universidades. É comum encontrar educadores e pesquisadores que prestam serviços por intermédio de fundações. Contudo, será que essa prática pode ser aprimorada de maneira a contribuir mais efetivamente para a geração de tecnologia e capacitação de futuros profissionais? Todos nós podemos analisar o sistema educacional e a geração de tecnologia industrial a partir de uma percepção muito mais crítica e visionária. Eu, por exemplo, atualmente leciono em duas universidades distintas e gero projetos de pesquisa, porém, somente isso não basta. É preciso mais. É preciso pensar mais, ousar muito mais.

A integração empresa-universidade é uma prática comum em países desenvolvidos da Europa, América do Norte e até mesmo da Ásia. Temos como exemplo a FIA (Forging Industry Association – Associação Internacional de Forjaria), que busca propiciar em universidades o desenvolvimento de projetos baseados em pesquisas que possam atender a empresas da área de forjamento e tratamento térmico e, ao mesmo tempo, gerar tecnologias. Esse é um dos exemplos de parceria de sucesso que podem ser adaptados e aplicados ao nosso contexto.

No Brasil, a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) lida com o setor de forjados aplicando modernas ferramentas computacionais, como o Simufact. A UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) tem estabelecido projetos com empresas de conformação mecânica e tratamento térmico, lançando mão de ferramentas avançadas como o DEFORM, para simulação de processos, e o JMatPro, para a simulação de propriedades de materiais. Por sua vez, o parque tecnológico da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) tem sido impulsionado pela promessa do pré-sal. Outras instituições também têm abordado parcerias como essas, entretanto, esses casos não são a regra. É inegável que ainda existe uma barreira entre a relação empresa-universidade.

Esta parceria precisa ser uma via de mão dupla. No âmbito industrial, o setor não mede esforços na discussão acerca de medidas protecionistas. Embora necessárias, estas medidas tendem, de certa forma, a prejudicar a competitividade a longo prazo quando utilizadas como foco principal. Por outro lado, a inovação é um dos processos que proporcionam o fortalecimento da indústria nacional e que passam, necessariamente, pela iniciativa por parte das empresas de estabelecer parcerias com centros universitários. Ao acreditar e fomentar projetos de pesquisa, viabiliza-se a geração de conhecimento e o aumento na qualidade da formação de engenheiros.

A indústria de forjamento no Brasil já começou a perceber que a sustentabilidade passa pela inovação e pela parceria com pesquisadores. O exemplo mais recente é o projeto com estagiários e laboratórios de pesquisa por parte da Metalúrgica Onix, companhia privada e atuante no Sindiforja. Atividades desta natureza podem envolver termos de confidencialidade e visam ao desenvolvimento e à melhoria de processos e produtos e à redução de custos, podendo também gerar publicações acadêmicas e comerciais.

É preciso discutir sobre os efeitos das atividades de cooperação entre empresa e universidade. Envie um e-mail com a sua opinião. Relate a sua experiência. Permita que a comunidade saiba que mais instituições têm desenvolvido projetos desta natureza.

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