Posso utilizar cavaco de usinagem para fabricar peças?

Esta é uma pergunta que frequentemente ouço em palestras ou chegam até mim por email. Confesso que a minha primeira reação era a de dar pouca credibilidade à pergunta e dizer que isto não seria possível, porém um dia destes um importante fabricante de cadeados me procurou com esta mesma pergunta.

Vendo nesta uma oportunidade para encontrar aplicações para peças sinterizadas, aceitei receber uma amostra de cavaco de latão que era obtido durante a fabricação dos cadeados. Para minha surpresa, vi que se tratava de um pó com uma granulometria adequada para compactação de peças, porém, infelizmente, com uma escoabilidade muito ruim, o que não permitiria o preenchimento adequado do ferramental durante a compactação.

A partir deste evento, passei a interpretar esta pergunta com mais cuidado e a tentar entender qual a aplicação desejada. Como já comentamos diversas vezes nesta coluna, o processo de Metalurgia do Pó é empregado em centenas de produtos e aplicações, indo desde peças automobilísticas de aço com alta precisão dimensional até eletrodos de solda, passando pela área alimentícia, de ligas metálicas, filtros, imãs, tratamento de água etc. Minha resposta era geralmente negativa a esta pergunta, porém, depois da experiência relatada passei a ver que o cavaco obtido pela usinagem era mais uma maneira de se obter pó metálico.

Falando em processo de fabricação, o mais utilizado para o ferro, aço, latão, estanho e bronze é o de atomização, em que o material fundido vaza por um orifício e é agredido por um jato de água ou gás, que acaba formando a partícula do pó. Pode-se também fabricar estes e outros pós por meio de eletrólise, moagem, redução de minério, redução de carepa, carbonila, eletrodo rotativo e… usinagem! Qual o melhor? Depende… Qual é a sua aplicação? O pó deve ser irregular ou esférico? Qual a distribuição granulométrica e a densidade aparente? Qual o grau de pureza exigido? Qual será a densidade do compactado?

As respostas a estas e outras perguntas definirão qual o tipo de pó mais adequado e, consequentemente, qual o processo de fabricação para sua obtenção. Vejamos o caso de fabricação de peças de aço: As prensas fabricam de 10 a 30 peças por minuto, com tolerância dimensional centesimal e uma variação de peso abaixo de 1% em um lote que geralmente supera 30.000 peças por setup.

Para que o processo seja estável e capaz, a homogeneidade do pó é muito importante, assim como a sua escoabilidade deverá ser “rápida” para que a prensa possa trabalhar em alta velocidade. Neste caso a atomização é o processo com melhor relação custo-benefício para este tipo de pó.

Por outro lado, pós metálicos podem ser utilizados para fabricação de, por exemplo, pigmentos para tintas, em que a escoabilidade deixa de ser um fator importante. Neste caso o pó de latão obtido por usinagem poderia ser aplicado sem problema.

Talvez também pudesse ser utilizado como reagente químico ou outra aplicação que ainda não foi estudada. Independente do caso, a pureza do material é muito importante e a presença de contaminantes, tais como óleo de corte, deve ser observada e, caso necessário, corrigida.

Concluindo, acredito que o pó de latão obtido por atomização é o mais adequado para fabricação de componentes de latão sinterizados. Por outro lado, com certeza o cavaco de latão poderá encontrar uma aplicação viável em alguma das centenas de aplicações onde a Metalurgia do Pó está presente.

Quer saber mais sobre esta técnica? Convido a visitar a página www.metalurgiadopo.com.br

 

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