Produtividade na indústria de forjamento

Produtividade é a palavra da moda no Brasil, com todos os segmentos da economia ávidos pela sua evolução. Entretanto, a evolução da produtividade, no sentido de melhorá-la não é algo que tem sido visto com frequência em nosso meio, particularmente nos mercados de ferramentas para conformação de metais, especialmente as forjarias.

A Figura 1 ilustra a comparação entre produtividades (medidas pelo índice de evolução em termos de “produto por hora trabalhada”) de diversos países no período de 2008 a 2012.

Os dados do gráfico parecem algo defasados no tempo, entretanto, nada nos leva a crer que tenha havido alguma melhora que seja nos cinco anos posteriores.

A Figura 1 não particulariza o segmento industrial de forjarias, mas considerando o estado financeiro das forjarias no Brasil, com fechamento de empresas tradicionais do setor e as demais sobrevivendo duramente à custa de reduções de jornada, demissões, lay-offs e todos os demais artifícios ditados pela lei da sobrevivência, leva-nos a concluir que também este segmento contribui para piora da situação geral.

O sentido de produtividade, como “medida da produção por unidade de recurso consumido”, tem sido subvertido, ou no mínimo mal interpretado, uma vez que, via de regra, o padrão é considerar como recurso apenas o custo absoluto do ferramental, sem considerar as imensas perdas que são acarretadas pela, por exemplo,  má escolha do aço ferramenta (ou, no mínimo, pelo mais barato) em detrimento de variáveis tão ou mais importantes como qualidade do material produzido, quantidade de manutenções, ou a vida útil da ferramenta, em termos de quantidade de peças produzidas.

Apenas a título de exemplo, considerando o custo do aço ferramenta contribuindo com algo em torno de 40% do custo total da ferramenta e preços dos aços ferramenta próprios para aplicação para forjamento a quente, entre R$ 18/kg e R$ 40/kg, diferença essa explicada pela qualidade do aço em questão, temos uma diferença de desembolso, por parte do forjador, que pode ser bastante apreciável em termos de valores absolutos, mas o uso do aço de qualidade inferior acarreta seguramente maior quantidade de defeitos por peça produzida, necessidade de redução do ritmo de produção, maior quantidade de refugo, maior perda de tempo em manutenções corretivas, gastos excedentes com rebarbação, mais lubrificantes,  em suma, um custo muito maior se considerado o todo. Tudo isso sem considerar as perdas de tempo com ferramentas retornando para reparos emergenciais (soldas, por exemplo) ocupando o valioso tempo do ferramenteiro com atividades que nem sequer deveriam ser consideradas rotineiras.

Assim, se o uso de um aço inferior acarreta ganhos para um ferramenteiro, para o usuário da ferramenta essa prática leva fatalmente a um custo maior e, consequentemente, a uma perda na produtividade da cadeia produtiva como um todo.

Claro fica que não se trata neste caso de ganância do ferramenteiro, ou falhas morais deste que é, de fato e de direito, um dos heroicos pilares da indústria brasileira, mas sim uma contingência de mercado, que faz com que o único critério real seja o já citado custo absoluto. Em outras palavras, desde que se gaste o mínimo possível com a ferramenta, ficamos todos satisfeitos. Será?

Igualmente, claro fica que a busca pela redução de custo deve ser objetivo de todos, e realce-se a palavra “todos” – o custo da ferramenta deveria ser visto no seu todo, considerando todos os fatores que posteriormente, em produção, serão prejudicados por uma escolha “barata” no início.

Infelizmente, um fator que em outros países mais desenvolvidos constitui valioso “driving force” para a procura por maior vida útil, consequentemente favorecendo o uso de aços de maior qualidade e resultados práticos, que é a escala de produção, continua por aqui muito baixa (e diminuindo), representando em muitos casos um entrave. Afinal, com nossa escala de produção contada aos milhares, qual o sentido em usar um aço que pode levar a ferramenta para a escalas 100 vezes maiores?

Este é um fator que não será solucionado apenas por um “abrir de olhos” da indústria de forjamento no país, mas uma pequena contribuição, não para levarmos a ferramenta para centenas de milhares, mas talvez para uma ordem de grandeza abaixo, já seria um grande ganho, contribuindo para reduções importantes de custos (desta vez considerado o todo), e consequentemente, para o tão almejado aumento da produtividade.

Passos gigantescos são, em geral, caminho para “tombos gigantescos”. Um pequeno passo a cada vez é caminho lógico e seguro para atingirmos essa meta, que deveria ser de todos: aumentarmos nossa produtividade.

 

  • Marcia
    27 de julho de 2017 at 19:41

    Ótimo artigo.

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