Começo minha primeira coluna nesta revista fazendo uma apresentação minha e do tema que me propus a desenvolver. Trabalho com pesquisa desde o final da faculdade. Sinto-me tão envolvida pelo assunto que é um exercício interessante tentar olhar como se parece pelo lado de fora. A visão que as outras pessoas têm do P&D, das universidades e dos institutos de pesquisa às vezes é bem distante daquela de quem está do lado de cá. É como olhar para uma foto sua feita por um fotógrafo desconhecido, de um ângulo que pode não ser aquele que você sempre achou o mais fotogênico.
O que pretendo fazer, então, é despertar interesse pelo ambiente em que eu vivo e vivencio diariamente a quem às vezes o conhece através de um retrato mal feito.
Meu nome é Ana Paola Villalva Braga, sou engenheira de materiais, mestre e doutoranda em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
Atuo como pesquisadora assistente no Laboratório de Processos Metalúrgicos do Centro de Tecnologia em Metalurgia e Materiais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Meu ramo de especialização é conformação mecânica de metais e mecanismos de desgaste de ferramentas de conformação a quente. Além dessa área, o CTMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) trabalha ainda com consultoria, ensaios e análises em siderurgia, refino, fundição, metalurgia do pó, tratamento de minérios, corrosão e proteção.
Em minha atuação profissional, desde fevereiro de 2008, tenho participado de projetos de desenvolvimento de processos e produtos de materiais ferrosos e não-ferrosos, aplicados em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) e prestação de serviços à indústria nas áreas de caracterização e análise de falhas e desgaste, conformação mecânica, ferramentas, tratamentos térmicos, fundição, metalurgia do pó e elaboração de ligas.
[info_box title=”” image=”” animate=””]O IPT é um dos maiores institutos de pesquisas do Brasil e conta com laboratórios capacitados e equipe de pesquisadores e técnicos altamente qualificados, atuando basicamente em quatro grandes áreas – inovação, pesquisa & desenvolvimento; serviços tecnológicos; desenvolvimento & apoio metrológico, e informação & educação em tecnologia. Por meio de doze centros tecnológicos, atua de forma multidisciplinar, contemplando os mais diversos segmentos como energia, transportes, petróleo & gás, meio ambiente, construção civil, cidades, saúde e segurança. Conheça o site: www.ipt.br. [/info_box]
Sendo o IPT um instituto variado nas capacidades e nos clientes, tive a oportunidade de trabalhar e conhecer algumas demandas de empresas que procuram fazer pesquisa para melhorar seus produtos ou processos. Em meio a alguns casos de sucesso incontestável, como posso citar a parceria do Centro de Tecnologia em Metalurgia e Materiais com a CBMM, com a Gerdau e com a Petrobrás, as expectativas de um novo cliente quando chega aqui são sempre grandes, mas às vezes grandes demais.
Encontrar o Material Perfeito
Não dá para fazer magia com escolha de uma liga para trabalho. Quando se deseja uma lista de propriedades físicas, mecânicas, térmicas, elétricas, magnéticas, etc. com restrições de fornecedores, de custo e de processo, não se tira da cartola a composição química ideal para a sua necessidade.
O conhecimento da Ciência sobre os elementos de liga, interação entre eles, etapas de transformação de fase, propriedades etc., ainda é muito incipiente para alguns materiais.
O pesquisador pode te ajudar a testar e escolher uma ou uma série de ligas que poderiam ser escolhidas e/ou desenvolvidas para a sua necessidade, mas isso leva tempo e necessita de uma série de testes. É preciso muita dedicação de quem faz e paciência de quem aguarda o resultado.
Otimizar o Processo
Ninguém conhece tanto do seu processo como você. Você participou da compra dos equipamentos, do setup, da contratação e do treinamento da sua equipe, da contratação de fornecedores e da venda e suporte aos seus clientes. Se a orquestra está desafinada, dificilmente um terceiro conseguirá afinar o seu piano sem que toda essa curva de aprendizado aconteça primeiro. O pesquisador pode ajudar com base na literatura, nas boas práticas industriais ou na experiência pessoal. Mas, ainda assim, deverá haver um intenso trabalho de gestão dentro da sua empresa para que as soluções indicadas sejam bem executadas e deem resultado.
Bater o Martelo
Escolher entre dois fornecedores? Entre 2 aços? Entre 2 tratamentos térmicos? Duas rotas de produção? 2 mercados? Um instituto imparcial dificilmente fará essas escolhas para a sua empresa. Serão feitas as análises cabíveis e necessárias para a comparação, mas quem irá “bater o martelo” será a sua equipe. É importante que quem receba os resultados tenha capacidade de decisão dentro da empresa, pois as consequências dela também serão suas.
Vantagens Financeiras
Sejamos realistas. Quanto custaria, dentro da sua empresa, deslocar 4 ou 5 especialistas, 3 máquinas e 1 laboratório para dedicar 100% do tempo, durante 2 anos, a resolver um problema específico com expectativa de sucesso discutível? O instituto de pesquisa tem a equipe, os equipamentos e o laboratório para oferecer, mas obviamente os custos serão equivalentes. É claro que é complicado abraçar esse risco, pois e se não der certo? E se der certo, a vantagem fica com quem? Para isso, existem as inúmeras formas de fomento e incentivos fiscais disponíveis para as empresas, institutos e universidades. Saber como financiar a sua pesquisa e como discutir propriedade intelectual é fundamental para decidir um bom escopo de projeto.
Conclusão
O que eu espero, ao longo das próximas edições, é mostrar o mundo real das parcerias entre indústria e a pesquisa. O que foi feito, quais eram as ideias no começo, que tipos de problemas foram enfrentados, de onde veio e para onde foi o dinheiro investido, quem se beneficiou com as novidades etc.
Faço o convite à comunidade acadêmica e aos demais institutos de pesquisa brasileiros para que me mandem seus casos de sucesso, suas histórias de parceria com indústria, suas modalidades de fomento à pesquisa disponíveis. Convido também ao empresário e ao colaborador de empresas que têm histórico positivo com esse tipo de projeto, para contar sua história neste canal.
Juntos vamos tentar mudar a visão do empreendedor brasileiro desse ramo nada fácil que é o forjamento, e mostrar que dá para investir em pesquisa e que os resultados podem valer muito a pena. Vamos contornar a crise e sair ganhando!