A placa na recepção da sede da empresa no prédio industrial em Jundiaí/SP me cumprimenta em inglês. Welcome mister. Sinal dos tempos. Afinal, a empresa também não se chama mais Engefor. Agora quem me cumprimentava em inglês na placa era a Seco Warwick do Brasil, que comprou integralmente a Engefor em Abril último. Aparício Freitas era sócio-proprietário da empresa e por razões contratuais segue na Seco Warwick, empresa fabricante de fornos com sede na Polônia e fábricas também nos Estados Unidos, India e China. E agora no Brasil.
Engenheiro mecânico, Aparício Freitas começou a carreira profissional em 1976 em São Paulo/SP na empresa Klockner, que então atuava na área de queimadores. Como assistente técnico, ele também visitava clientes, fazia regulagem de queimadores e assim tinha contato com equipamentos que, em geral, eram fornos. Trabalhou pouco tempo na Klockner. Com a experiência na área de queimadores e, porque não dizer fornos, foi convidado a trabalhar na E.P. Humbert, empresa italiana fabricante de fornos com sucursal no Brasil. Quando essa empresa foi transferida para novas instalações em Itapecerica/SP em função de expansão, ele, que morava no ABC, achou longe e decidiu não ir junto. Tinha trabalhado lá por cerca de dois anos.
Foi trabalhar na área de ferramentaria, mas como ele diz, esse não era seu negócio. Queria mesmo era fazer cálculos, entender o processo. Junto ao curso superior de engenharia ele havia feito matemática, chegou a dar aula por muitos anos, enquanto estudava. Antes, fez curso técnico de máquinas em Santo André/SP. Quando saiu da ferramentaria e apareceu a oportunidade de trabalhar na Combustol, ele aceitou imediatamente. Começou a trabalhar na divisão de fornos, na área de desenvolvimento de novos negócios. Isto foi em 1979, época de crescimento da indústria. O convite veio pedindo uma pessoa que tivesse uma determinada experiência na área de fornos e ele não deixou a chance escapar.
Aparício Freitas diz que a época em que trabalhou na Combustol foi uma das mais gratificantes de sua vida. Uma das razões, comenta, foi ter a oportunidade de trabalhar com Paulo Lobo Peçanha, fundador da empresa e a quem até hoje se refere respeitosamente como doutor Paulo. Freitas, como costuma ser chamado, diz que Paulo Peçanha era uma pessoa com capacidade e conhecimento acima da média. Trabalhava todo dia, dedicava-se muito. Os funcionários o respeitavam por isso. As pessoas que gerenciavam a engenharia eram de confiança do dono da empresa e referência para Freitas. Estes gerentes eram responsáveis pela área de fornos de atmosfera controlada, fornos clássicos de tratamento térmico, fornos siderúrgicos. Freitas era o aprendiz e queria aprender. Ficou com os fornos que ele chama de periféricos e tentava fazer com isso o melhor que podia. Deu certo, a ponto de depois de algum tempo ficar com a área de alumínio. E assim foi crescendo. Lembra com emoção dos bilhetes que o doutor Paulo lhe enviava, felicitando pelo bom encaminhamento de propostas que ele fazia questão de revisar. Lia todas as propostas que a empresa enviava aos clientes.
Ficou na Combustol por quase 10 anos. Decidiu junto a outros três colegas da empresa abrir seu próprio negócio. Começaram a trabalhar com painéis elétricos, automação industrial. Um dos sócios, Yassuhiro Sassaqui era engenheiro eletricista. Chegaram a fornecer para o antigo empregador, a Combustol. Com o Plano Cruzado, veio uma nova fase da economia e eles começaram a fabricar pequenos fornos, que era o que o mercado estava procurando. Sassaqui continuou na Engefor até agora e também vendeu sua participação para a Seco Warwick. Os outros sócios saíram logo depois de iniciada a empresa, que não comportava quatro administradores.
Conforme Aparício Freitas vai apresentando sua história, algumas frases ajudam a compreender melhor sua personalidade. Uma delas tem a ver com o seu nome. Ele comenta que até na época da Combustol costumava ser chamado pelo seu primeiro nome, Aparício. Quando fundou a própria empresa, decidiu passar a usar o sobrenome, Freitas. Ele justifica dizendo que não queria influenciar negócios com o nome que utilizava na empresa anterior. Nova firma, novo negócio, novo nome, afirma. Outra decisão foi a de não reformar fornos de fabricantes de fornos ainda estabelecidos no mercado. “Por questão ética. Se a empresa existisse, a gente não fazia. Para não impactar. Mas se fosse um equipamento importado ou que já não existisse mais, aí a gente fazia”, diz.
A Engefor começou em 1986 na Vila dos Remédios, na cidade de São Paulo/SP. Logo o crescimento e o barulho decorrente da intensa atividade fizeram com que a empresa tivesse que se mudar do galpão com residências ao lado para uma área mais apropriada. Mudaram para Parada de Taipas, bairro localizado na região noroeste da cidade de São Paulo. Também era um galpão alugado e Freitas lembra do comentário de um cliente perguntando na época: “Puxa, você vai fazer o meu forno nesse galpão?” Ele comenta que o imóvel tinha um certo conforto industrial, mas não era uma instalação bonita. Haviam decidido atuar na área de fornos sob encomenda. Freitas explica: “a gente é como um alfaiate. Fazemos a roupa conforme o cliente deseja”. E começaram a atuar em nichos específicos, como o de fornos de sinterização, por meio de um acordo de tecnologia com a empresa norte-americana Abbott. Ou dos fornos contínuos de cura de teflon. Procurava não entrar no mercado de fornos atmosfera. Como nesse segmento há muita concorrência, ele comenta que o negócio é fatiar o bolo, e não fatiar a fatia. E se não sabia fazer um equipamento, não vendia.
Depois de 20 anos de existência, finalmente em 2008 conseguiram mudar para as instalações atuais, um moderno prédio em construção em concreto pré-moldado. Construído com recursos próprios, sem financiamento, salienta. Planejado para ser uma fábrica de fornos com possibilidade de fazer o start up de equipamentos lá mesmo, em temperatura. “Os problemas que podem aparecer no cliente a gente faz aparecer aqui”, comenta Freitas. “Ao longo dos anos acabou virando rotina. Em forno sob encomenda, você não pode errar”. A Seco Warwick deve investir na planta, que inclui uma modernização para permitir a fabricação de fornos a vácuo e também novas instalações nos transformadores, para aumentar a capacidade de teste de equipamentos em temperatura.
A vivência no setor faz Freitas lembrar que o cliente de fornos no Brasil faz o investimento a cada 5 anos, considerando implantação, utilização e amortização. Quando ele vai repetir a dose, o ciclo é mais ou menos igual, 5 anos. Ele diz que nos Estados Unidos, por exemplo, isto é completamente diferente, muito mais rápido. Por isso a necessidade de acertar. “Se você consegue fazer essa cadeia, de fazer um bom fornecimento, fazer um bom atendimento, quando ele for repetir, ele te dá a preferência” diz.
Freitas é casado. Comenta que na época em que decidiu deixar a Combustol para criação da sua própria empresa já era casado. Sentou com a esposa para explicar a sua decisão. Ela apoiou e ele foi em frente. Tem dois filhos, um é advogado, outro arquiteto. Não trabalham na empresa. “Eu não trouxe eles para a empresa. Falei para o meu sócio, ‘a gente não deveria misturar a empresa com a família. Evitar que ela se transforme em uma empresa familiar'”.
Em sua sala, prateleiras com miniaturas de carros se alinham ao lado de fotos de carros antigos. É seu hobby. As miniaturas são apenas decoração. Tem uma coleção de Opalas, Mavericks, Camaros reformados, tinindo como novos. “Lembro como se fosse hoje, na faculdade via meus colegas com aqueles carrões, alguns tinham um poder aquisitivo melhor, e eu pensava, acho que um dia ainda vou comprar um carrinho desses”.