Tratamento superficial: Vide bula!

Na última edição escrevemos sobre tratamento térmico em sinterizados e suas particularidades. O assunto desta edição é Tratamento Superficial e mais uma vez chamarei a atenção para uma série de cuidados que devem ser tomados para que o resultado seja realizado com sucesso. Novamente a porosidade é a característica do material que exige cuidados, principalmente em processos onde a peça é imersa em banhos químicos. A necessidade ou não de se vedar a porosidade antes do tratamento leva à divisão em dois grupos:

Grupo 1 – Deve-se fazer a selagem da porosidade antes do tratamento: Neste grupo enquadram-se os processos com banho eletrolítico (camada galvânica), tais como a deposição de cobre, níquel, cromo, zinco (Fig. 1) e estanho. Também os processos por deposição química, sem passagem de corrente elétrica, tais como níquel com teores variáveis de fósforo.

Como explicado na última edição, se a porosidade não for selada, o líquido de cada banho do tratamento penetra na peça e acaba aflorando ao final do processo, causando manchas na superfície e podendo até deteriorar o material internamente. O processo mais comum para vedação da porosidade é a impregnação com resina e deve ser feita por uma empresa especializada, com uma resina apropriada e através de um processo muito bem controlado. Ao final, a peça deve passar por uma limpeza para que o resíduo da resina não fique sobre a superfície, levando a falhas no tratamento superficial.

Grupo 2 – Não há necessidade de se fazer a selagem da porosidade: São exemplos o fosfato de zinco, fosfato de manganês e a zincagem a fogo ou galvanização, onde a peça é mergulhada em um banho de zinco fundido. Também o processo de deposição mecânica, onde a peça é tamboreada em uma mistura de pó metálico e esferas de vidro, que “martelam” o pó contra a superfície da peça. Zinco, níquel, alumínio e cromo podem ser aplicados desta forma, individualmente ou misturados.

Outro processo que pode ser aplicado é o tratamento a vapor, também conhecido por Ferrox (Fig. 2), onde as peças são aquecidas até uma temperatura de 500ºC e então submetidas a uma atmosfera de vapor superaquecido. O resultado é a formação de uma camada de óxido estável, de coloração azulada escura ou preta, que acaba por vedar a porosidade da peça sinterizada permitindo o seu uso em aplicações que exigem estanqueidade, dentre elas aplicações em compressores herméticos e amortecedores de veículos, ou mesmo como selagem de porosidade para os processos do grupo 1 já citados. O óxido formado (Fe3O4) tem ainda como característica uma alta dureza, que permite utilizar a peça em aplicações de desgaste, e uma certa resistência à corrosão, que permite a sua estocagem ou uso sem a necessidade de aplicação de óleo protetivo.

IMPORTANTE: Em qualquer dos casos acima, nunca coloque a peça em óleo protetivo antes do tratamento, pois este impregnará a porosidade da peça e acabará interferindo no processo. Para proteger a peça contra a corrosão, deve-se utilizar embalagens com VCI (Vapour Corrosion Inhibitor), que formam uma atmosfera protetora dentro da embalagem.

Obs: Informações mais precisas sobre este assunto poderão ser encontradas no livro “A Metalurgia do Pó”, disponível no site www.metalurgiadopo.com.br.