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São muitas nossas doenças. Entretanto, neste artigo, falarei de uma doença tipicamente brasileira que é a hipertrofia de nosso sistema bancário. Os juros cobrados pelos bancos no Brasil acarretam vários e graves efeitos colaterais. Um deles é o encarecimento da produção nacional ao acrescentar, face a nossos concorrentes internacionais, cerca de sete pontos percentuais aos custos da indústria de transformação.
Por outro lado, o endividamento das famílias brasileiras em 48% de sua renda, ainda que não seja excessivo quando comparado às de outros países, compromete, em função dos juros elevados, 22% desta mesma renda para pagar as parcelas desta dívida, mais do que pagam as famílias americanas.
Estes dois simples fatos fazem com que nosso sistema bancário, ao contrário do resto do mundo, onde ele é um fator importante para alavancar a produção e o consumo, contribua fortemente para pôr em risco a saúde financeira de empresas e/ou consumidores brasileiros que precisarem de crédito.
A SELIC é parte da mesma “doença brasileira” que nos acomete há tempo e, portanto, sua redução para os mesmos níveis dos demais emergentes, que têm juros primários iguais à inflação mais 1 a 2 pontos, é tão importante quanto a diminuição de nossos “spreads” bancários para níveis civilizados. Esta dupla redução teria vários efeitos benéficos tanto para quem produz como para quem consome, contribuindo decisivamente para a retomada do crescimento de nossa economia. Dentre os diversos efeitos positivos, podemos, entre outros, citar:
– Melhoria na competitividade do produto nacional, com a diminuição do “Custo Brasil”; Redução da inflação ao reduzir preços, via diminuição de custos; Aumento na capacidade de consumo das famílias brasileiras, graças à redução dos juros embutidos na parcela da renda destinada ao pagamento das dívidas.
Tais metas são perfeitamente factíveis, pois, ainda que a redução da SELIC dependa, inicialmente, de uma melhora de nossa política fiscal, o processo passa a ser realimentado e sustentado via redução da despesa do setor público com juros e pelo aumento da arrecadação decorrente da retomada dos investimentos produtivos, estimulados pela redução do custo de capital.
* Mario Bernardini é diretor de competitividade da ABIMAQ .