A Manutenção é a Porta de Entrada da Indústria 4.0?

Segundo levantamento da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, a estimativa anual de redução de custos industriais no Brasil, a partir da migração da indústria para o conceito 4.0, será de, no mínimo, R$ 73 bilhões/ano. Essa economia envolve ganhos de eficiência (R$ 34 bilhões/ano), redução nos custos de manutenção de máquinas (R$ 31 bilhões/ano) e consumo de energia (R$ 7 bilhões/ano). A oportunidade é enorme e o benefício não é só econômico já que todas estas melhorias impactam positivamente no meio ambiente.

Apesar dos ganhos de eficiência operacional aparecerem como a maior oportunidade, tenho visto que não é tão fácil e rápida a adoção das tecnologias habilitadoras para a obtenção destes ganhos. Talvez porque outras metodologias e tecnologias já tenham explorado os ganhos mais óbvios, as frutas mais baixas da árvore. Com quase o mesmo valor de oportunidade, (R$ 31 versus R$ 34 bilhões/ano) está a redução dos custos de manutenção das máquinas. Neste campo vejo belas e frondosas frutas caindo das inúmeras árvores de oportunidades e ilustrarei com alguns exemplos:

 

Manutenção Preditiva Através de IIoT

Atualmente, quando uma máquina quebra, os operadores têm que reativamente solicitar um manutentor para descobrir a causa e consertar o defeito. Com sensores e conectividade, uma máquina se torna inteligente, enviando dados para uma análise computacional com capacidade de avaliar tendências. Este software processa os dados em tempo real e informa problemas que podem aparecer em um dia, uma semana, um mês – fazendo com que o trabalho da manutenção possa ser muito mais eficiente.

O DynaPredict, é um exemplo de sensor, desenvolvido no Brasil, que cumpre esta função onde há movimentação. Outra oportunidade, a mais longo prazo, vem do encaminhamento destes dados para os fabricantes dos equipamentos os quais poderão melhorar os seus projetos ou montagens para aumentar a vida útil e facilitar a manutenção dos itens com maior desgaste.

Nas plantas industriais de papel e celulose, petroquímica e de alimentos, um dos pesadelos da manutenção é a corrosão sob isolamento (CUI – Corrosion Under Insulation). É fácil entender: muitos tubos que transportam fluidos de um ponto a outro precisam ser isolados termicamente, para manter a temperatura ou para garantir a proteção pessoal dos operadores. Como estes isolamentos são porosos e é praticamente impossível vedá-los, a umidade acaba se acumulando no isolamento e aí acontece a corrosão. Se não é nada legal ter um vazamento de água em casa então imagine os inúmeros problemas causados por um vazamento em uma tubulação transportando produto químico quente. A iSENSpro, empresa belga, acabou de desenvolver sensores que são instalados sobre o isolamento ao longo da tubulação, monitorando 24/7 a fim de antecipar vazamentos e corrosão.

 

Autoatendimento com Suporte Usando Realidade Aumentada e Virtual

Um exemplo do nosso dia-a-dia é a máquina Nespresso. Com a ajuda de um smartphone, o cliente lê o QR Code e é guiado de forma interativa, passo a passo, de forma que possa operar e consertar sua máquina. Este modelo de realidade aumentada (AR – augmented reality), onde objetos físicos são incrementados por informações geradas por computação, melhora significativamente a experiência do usuário.
A viralização do Pokemon GO é prova disso. No mundo industrial, a GoEpik tem ajudado a Renault a aplicar estas tecnologias tanto em manutenção quanto em treinamento. Assista aqui a este belo case contado pela BBC: Imagining innovation in Industry 4.0. Brazil Where Elese?

Outra solução da GoEpik que faz muito sentido para o mercado da manutenção é o Especialista Remoto. Recentemente usamos esta tecnologia durante o Desafio IIoT promovido pela Associação Brasileira de Internet Industrial. Trata-se de um aplicativo que conecta um técnico local a um especialista remoto. Com o uso do smartphone (ou smartglasses ou tablet) o técnico local demonstra qual sua dúvida. Com ajuda da realidade aumentada o especialista remoto disponibiliza desenhos e indicações visuais na tela do smartphone, guiando o técnico para a solução do problema. Isso evita um enorme desperdício de tempo e dinheiro com deslocamentos, hospedagens, alimentação, além de colocar o equipamento em operação em muito menos tempo.

Falando em diferentes realidades, recentemente tive a oportunidade de instalar o escapamento de um trator na linha de produção da CASE. O vídeo está no meu canal no Youtube: Claudio Henrique Goldbach, Testando a Realidade Virtual em Ambiente de Hiper Realismo. Não mostra isso, mas foi o que senti. Na prática, a fábrica, o escapamento e o trator eram virtuais. A realidade virtual em ambiente de hiper-realismo foi criada pela BEENOCULUS e serve para treinar os colaboradores fora da linha para que desempenhem seu máximo quando estiverem no mundo real.

Como estas soluções para manutenção são de fácil adoção e baixo custo, entendo que haverá ganhos significativos e rápidos fazendo com que as empresas se motivem a continuar explorando as tecnologias habilitadoras para a resolução dos seus problemas. É o que eu sempre sugiro: comece pequeno, erre logo, aprenda rápido e explore as infinitas possibilidades da transformação digital. Viva a Revolução!

 


Nome do autor: Claudio H. Goldbach

Engenheiro Químico com pós em Gerenciamento Ambiental na Indústria, ambos pela UFPR, com 25 anos de experiência na área térmica. Atualmente, é CEO da PERFIL Group, controladora da Perfil Térmico, TERMIA TECHNOLOGY e TERMICA Solutions. Também é diretor da ABII – Associação Brasileira de Internet Industrial (www.abii.com.br)