“Não dá!”: Para quem pensa diferentemente e tem espírito inovador isto significa: “Ótimo, é um bom início!”
Nos nossos dois últimos artigos explicamos o que é uma contradição, como formulá-la e resolvê-la. Analisamos também a inovação e o padrão oculto de modelos de negócios disruptivos.
O caminho da inovação leva à sobrevivência de longo prazo, porém não sem desafios a serem vencidos. Inúmeras organizações adotam sistemáticas de gestão da inovação sem sucesso face à concorrência. Sessões de “brainstorming” buscam preencher os funis de inovação com o máximo de ideias possíveis. Esta prática tem limitações quando a busca é de caminhos inovadores que tragam resultados financeiros confiáveis. Observa-se uma lacuna estratégica, somente vencida quando se toma por base o uso de padrões de pensamento diferenciados na superação de contradições.
Para o Prof. Dr. Gunther Herr, “a inovação refere-se a uma solução de desafios contraditórios, que é resolvida a partir de uma situação difusa e, em seguida, é aplicada com êxito na prática [1]. ”
Tarefas paradoxais podem ser formuladas por meio do pensamento orientado pela contradição, o que fornece a oportunidade de se desenvolverem soluções surpreendentes e bem-sucedidas, que vão além das barreiras do pensamento atual. Assim, características únicas e sustentáveis podem ser desenvolvidas de forma estruturada mais rapidamente.
A formulação de uma contradição começa com a elaboração dos objetivos mais desafiadores numa área de atuação. A solução da contradição tomando por base a lógica existente não é possível. A contradição formula, entretanto, um novo questionamento que leva à busca de novas e surpreendentes direções de solução, de forma que a falta de lógica é a lógica da inovação!
Nossos modelos mentais tradicionais mecanicistas nos impelem a descartar qualquer possibilidade de ambiguidade ou paradoxismo na busca de ideias. “Pensar fora da caixa” – este é um dos chavões mais comuns no mundo organizacional hodierno.
Surge, assim, uma pergunta:
– Como usar barreiras positivamente para assumir desafios com um espírito inovador, motivando colaboradores e desenvolvendo uma atitude mental apoiadora da gestão de mudanças?
Durante muitos anos valeu a alegação de que zangões segundo as leis da aerodinâmica não podem voar. Não obstante, os zangões mesmos ignoram essa afirmação e voam assim mesmo.
Pessoas inovadoras ignoram barreiras criadas segundo crenças, assim como aparentes leis estabelecidas e pensam conscientemente além dos muros de proteção com vistas à expansão dos limites de desempenho.
Ainda hoje é comum ouvirem-se expressões em reuniões e workshops como “Não dá …” ou “Já tentamos …!”, até “Esqueça isso …!”
Essas declarações são uma clara indicação do reconhecimento de que se chegou a um limite. Ainda que uma expansão das fronteiras de tais limites seja considerada impossível, em verdade atualmente ela é apenas inimaginável! Considerando-se o advérbio atualmente, já se tem um primeiro e bom sinal para se considerar que não necessariamente tem que se permanecer assim. Muitas das vezes uma discussão criativa termina quando um “Não funciona!”, ou “É impossível!”, é pronunciado, particularmente se essas declarações são feitas por um gestor.
Tais barreiras existem em todos os processos de alto nível de desenvolvimento e em cada área estratégica das organizações. No nosso artigo publicado na página 20 da revista Forge de abril de 2017 apresentamos as cinco colunas de inovação WOIS – produtos e serviços, clientes e mercados, organização da empresa com seus processos no campo da concorrência, recursos da empresa e criação de valor da empresa que descrevem essas áreas estratégicas como pilares de uma empresa e, portanto, também como pilares essenciais de um modelo de negócios bem estruturado, vide a figura 1 [2].
A inovação exige uma cultura de inovação com mentalidade aberta e ostensiva que exceda barreiras e mova seus limites. O objetivo é redefinir os padrões de desempenho máximos reconhecidos pelos especialistas, quebrar regras e substituir a lógica existente por uma “Nova Lógica”.
A predisposição para mudança e a irracionalidade criam um pano de fundo para se questionar o conhecimento constituído e criarem a base para uma cultura de inovação para processos de gestão de mudanças.
Para isto, no entanto, devem-se inicialmente reconhecer e nomear quais são os limites existentes. Devemos ver os padrões de desempenho máximos constituídos não como pontos finais, mas como pontos de partida de um desenvolvimento. Isso altera radicalmente a abordagem nos processos de desenvolvimento, onde cada final é também um começo. A experiência mostra que há um progresso constante no desenvolvimento do mundo e que a sua continuidade não tem fim. Ter coragem e confiança nesta lei de desenvolvimento reforçam a firme convicção de que sempre haverá soluções surpreendentes para desafios aparentemente insuperáveis. A metodologia WOIS considera este processo como uma metamorfose semelhante aos processo da natureza e o chama de “INOMORFOSE” para caracterizar a descrição desse atitude mental. Ela recomenda que se reaja como um modelador do futuro bem sucedido e por isso mesmo com alegria ao ouvir – “Não dá!”, pois para um pensador com espírito inovador e que pensa diferentemente isto significa – “Ótimo, é um bom início!”. Assim é possível abandonar a sua zona de conforto e participar prazerosamente no modelamento de um futuro de sucesso. O termo “INOMORFOSE” é composto pelas palavras inovação (nova, surpreendente, economicamente bem-sucedida e rápida) e metamorfose (mudança surpreendente), vide a figura 2 [3].
Mudanças surpreendentes podem ser provocadas com uma mentalidade aberta, porque a inovação começa em nossas cabeças! Para tornar o inimaginável imaginável e tornar invisível o visível, sempre se exigirá que os inovadores e os modeladores do futuro tenham a energia para a mudança. É certo que os inovadores devem ter a confiança de que as barreiras e os limites de desempenho podem ser superados. O padrão de sucesso está, entretanto, num nível mais alto de abstração que cada inovador deve alcançar. Naturalmente, a transformação orientada para o futuro de uma empresa requer gerenciamento de mudanças bem-sucedido, porém, isso requer não somente a definição de sequências de processos definidos para a implementação de mudanças, mas principalmente que a mentalidade das pessoas seja adequada ao processo de mudança.
A natureza nos ensina como transformações bem-sucedidas podem ocorrer sem que condições previamente definidas precisem ser aceitas como imutáveis.
Na natureza ocorrem processos de transformação fascinantes. Os resultados inimagináveis nos surpreendem sempre. Para a lagarta, por exemplo, que se torna borboleta voadora, esta transformação é uma sequência pré-programada desenvolvida pela natureza no curso da evolução pela metamorfose. A transformação, desde a situação inicial até o objetivo não tem a intenção estratégica do ganho econômico, como é o processo de transformação de uma empresa. Em vez disso, é um processo de crescimento com estágios intermediários impressionantes, que serve apenas ao objetivo crucial da preservação do gênero. Coincidentemente, neste ponto, os interesses da natureza e da economia se encontram novamente, pois em ambos os casos é necessário garantir seu próprio futuro.
O gerenciamento bem-sucedido da mudança começa em nossas cabeças. O modelo de pensamento de pessoas inovadoras, com mentalidade aberta e ostensiva, são a base para uma abordagem direcionada ao futuro em empresas ágeis. O desejo da transformação combinado com a irracionalidade e o prazer pela mudança são o pré-requisito para inovação e transformação bem-sucedidas. Esta mentalidade é fortalecida por abertura, visão ampliada, constante questionamento do “status quo”, busca de alternativas bem-sucedidas e novas soluções para os desafios existentes. É preciso coragem e agilidade para enfrentar novas situações sem que haja a garantia de 100% sobre o sucesso. Essas pré-condições são requisitos básicos importantes para a motivação dos funcionários em empresas ágeis e orientadas para um futuro sustentável. Elas criam as exigências para o pensamento empresarial auto organizado.
A natureza teve muitos milhões de anos para programar o processo de metamorfose, só podendo reagir muito devagar às mudanças. No mundo moderno isso é diferente. Alterações altamente dinâmicas obrigam as empresas a reagir rapidamente. Mas muitas vezes há dúvidas quanto a reações, ou seja, se elas são verdadeiramente ações futuras sustentáveis para as empresas.
Modelos bem-sucedidos na Fórmula 1 podem ser igualmente utilizados na economia.
O piloto da Fórmula 1 Gerhard Berger escreveu sobre o campeão mundial de F1 Ayrton Senna: “Ele foi o piloto de corrida mais perfeito e mais concentrado, o conjunto de mente, concentração, força e velocidade combinadas com um dotado talento para dirigir e a capacidade de não cometer nenhum erro nos instantes decisivos”[3].
Atletas bem-sucedidos treinam as sequências de ação em várias situações desafiadoras. Eles necessitam ter não somente aptidão física e mental, mas também são de extrema importância a experiência e o conhecimento sobre seu esporte, os adversários e parceiros, bem como sobre si mesmos. O incentivo que têm de que sempre foi possível expandir os limites de desempenho os leva continuamente a novos desempenhos máximos.
Não cometer nenhum erro em situações decisivas parece ser a chave para o sucesso duradouro de uma empresa. Somente os mais rápidos e corretamente orientados sobrevivem com sucesso. Mas de onde vem a base para decisões bem-sucedidas? De indicadores econômicos? Do conhecimento e da experiência? Da capacidade de previsão do futuro? Do instinto e da intuição? De modelos matemáticos e algoritmos? Ou mesmo da sorte? Na realidade, parece ser uma combinação de tudo, combinada com o uso de estratégias e meios para orientação.
A alta dinâmica da mudança global obriga as empresas a questionarem constantemente suas estratégias futuras. Elas buscam constantemente o equilíbrio entre alcançar os objetivos de longo prazo e reagir de forma rápida e flexível às mudanças no mercado. A mudança constante exige uma disposição para transformações de todas as partes envolvidas.
O processo INOMORFOSE oferece uma abordagem comum e contraditória para o projeto sistemático de novos modelos de negócios. A mudança orientada pela contradição segue o padrão “Take Both” de renovação e preservação da tradição, ou seja, a manutenção do padrão de sucesso, o caráter e a filosofia de uma empresa devem ser mantidos e ao mesmo tempo expandidos de forma inovadora através de inovações, abrindo-se mão do compromisso que é a solução de um conflito através de acordo mútuo e voluntário que resulta no sacrifício de partes das demandas respectivas de ambos os lados e leva a uma solução deteriorada, vide figura 3 [1].
As empresas que forem bem-sucedidas em solucionar as contradições propostas para a busca de ideias inovadoras e se preparando pela sua aplicação nos seus processos organizacionais são as melhores candidatas ao salto competitivo face à concorrência de mercado.
Pensar diferente orientado pela contradição pode revolucionar um modelo de negócio!
Referências Bibliográficas
[1] Herr, G.: Innovation Excellence: Zukunftsfähigkeit erfordert Widerspruchslösungen – Innovation Leadership vs. Operatinal Excellence, Innovation Management Support, Diesel Kuratorium, Ausgabe 2, April 2016, Seite 8 bis 17;
[2] de Souza, M. M.: Desafios em Cenário Macroeconômico Difuso, Revista FORGE, número 20, abril de 2017, pg. 20;
[3] http://www.wois-innovation.de/change-management-tools-innomorphose-wois-wandlungsstrategie/, acesso 08 de outubro 2017.