Distorções dimensionais – Parte II: Distorções evitáveis

Conforme descrito no Capítulo I, as Distorções Dimensionais podem ser classificadas, para efeito didático, em dois grandes grupos:

– Distorções Evitáveis- Distorções Inevitáveis

Este capítulo englobará o primeiro grupo, descrevendo os fatores que causam estas distorções. É importante ressaltar que o termo “EVITÁVEIS” usado neste texto, não significa que elas sejam 100% eliminadas ou mesmo de previsão exata. De fato muitas destas causas, como será visto adiante, são de difícil quantificação, tornando virtualmente impossível uma precisa avaliação da intensidade de seu efeito. Entretanto, o conhecimento destas causas, e, após análise de engenharia, a procura de alternativas para “evitá-las” é de grande valia para a redução da Distorção Total.

Dentro deste grupo, podemos ainda gerar uma sub-classificação, separando as causas das Distorções Evitáveis em:

– Causas Externas ao Tratamento Térmico- Causas Internas ao Tratamento Térmico

Causas Externas ao Tratamento Térmico

Este sub-grupo trata dos fatores que causam Distorções Dimensionais Evitáveis, mas que não estão diretamente relacionadas com o tratamento térmico em si, mas sim, com etapas anteriores, desde a fase de projeto.

O Quadro I lista os fatores que interferem na Distorção Dimensional Evitável, que são externos ao Tratamento Térmico.

Matéria Prima

Trata das causas de Distorções Dimensionais Evitáveis, externas ao tratamento térmico, que são originadas na seleção do aço que será utilizado na confecção do produto, bem como do seu condicionamento, ou seja, da sua preparação.

A seleção do aço

O projetista deve considerar, além da aplicação a que se destina, e das propriedades físico-quimico-mecânicas desejadas, as condições de tratamento térmico a que será submetida a peça.

Do ponto de vista de distorções de tratamento térmico, a escolha do aço deverá ser conduzida de acordo com as seguintes premissas:

– Qual, de fato, é a resistência mecânica desejada?- Qual a temperabilidade do aço? – Existe alguma opção de aço que não necessita tempera para chegar à resistência mecânica projetada?

Qual, de fato, é a resistência mecânica desejada?

É comum que se confunda a Resistência Mecânica desejada (traduzida pela dureza) com a Resistência a Desgaste, e, nesse sentido, exigir-se durezas elevadas.

Apesar de haver relação entre uma e outra, a priori a resistência a desgaste não depende somente da dureza do aço. Em muitas situações, durezas excessivas, pelo contrário, prejudicam a resistência a desgaste.

O projetista deve ter em mente que resistência a desgaste não é objetivo do tratamento térmico de tempera. A resistência mecânica obtida por tempera deve ser a necessária e suficiente para que a ferramenta resista às tensões que serão aplicadas em trabalho.

A resistência a desgaste é objeto de estudo da engenharia de superfícies, devendo ser garantida por outros processos, posteriores a tempera, como, por exemplo, a nitretação ou mesmo os revestimentos PVD.

Exigir durezas desnecessariamente elevadas, limita os processos de tratamento térmico, e, direta, ou indiretamente, limita as opções do profissional de tratamento térmico, no sentido de reduzir as distorções dimensionais resultantes.

Qual é a temperabilidade ao aço?

É a propriedade dos aços, que determina a profundidade e a distribuição da dureza quando submetido a tempera. Basicamente, no processo de tempera de um aço, objetiva-se a formação da microestrutura martensítica, e, consequentemente, a supressão da formação de outras microestruturas formadas por difusão (perlita, bainita). A obtenção da martensita, para os aços, dá-se através de resfriamento rápido, de modo a evitar a formação das microestruturas de difusão.

Assim, quanto maior a temperabilidade de um aço, maior a fração de martensita formada. Como a formação de martensita depende da velocidade de resfriamento, quanto maior a temperabilidade, menor a velocidade de resfriamento requerida, portanto menor a severidade da tempera (detalhes sobre meios de tempera serão discutidos na próxima seção deste texto). Consequentemente, menor distorção dimensional.

A fig 1, ilustra esquemáticamente, o efeito da diferença de temperabilidade entre os aços SAE 1040 e SAE 4140. Corpos de prova de diâmetro 1” x 3” de comprimento. Ambos com o mesmo teor de Carbono (0,4%), e foram temperados de maneiras diferentes, mas objetivando a dureza de 60 HRC na superfície.

A curva de dureza é representada pelas linhas vermelhas, abaixo das respectivas secções transversais. A dureza é tomada da superfície até o núcleo.

O aço SAE 4140, apresenta queda de apenas 10 pontos HRC da superfície para o núcleo, enquanto que o SAE 1040 cai drásticamente, até 20 HRC, evidenciando a elevada temperabilidade do 4140 em comparação.

A temperabilidade mais elevada deve-se à presença de elementos de liga, notadamente Cromo (0,9%) e Molibdênio (0,2%), ausentes no 1040.

Evidentemente, questões comerciais devem ser consideradas, tais como a disponibilidade do aço nas bitolas necessárias, e o custo, uma vez que o SAE 4140 é substancialmente mais caro que o 1040, mas do ponto de vista de Distorções Dimensionais, é muito mais conveniente confeccionar o item em questão com o SAE 4140,uma vez que este usará meios de resfriamento muito menos severos, que causam menores distorções dimensionais.

Existe alguma opção de aço que não necessite ser temperado para atingir a resistência mecânica projetada?

Para uma mesma resistência mecânica, muitas vezes há diversas opções disponíveis. Nessa situação, é interessante que seleção seja feita de acordo com o critério de temperabilidade, lembrando que, quanto maior a temperabilidade do aço, menos severo deve ser o resfriamento no processo de tempera, e portanto, menores distorções resultantes.

Em muitas situações, é possível “fugir” da tempera, selecionando-se aços já beneficiados (em geral para a faixa de 28/32 HRC).

A situação é ilustrada, na prática, com um exemplo na fig. 2.

O pino da fig 2, tem como função ser um componente para ferramenta de injeção plástica. De acordo com análise de engenharia, este pino tem movimento deslizante, dentro do molde e tem contato direto com o polímero sendo injetado.

Assim, este componente fica sujeito apenas à desgaste de natureza adesiva, não havendo qualquer outra solicitação, como tração/torção, o qual exigiria elevada resistência mecânica durante o uso.

Nessa situação, há que se perguntar exatamente por quê foi selecionado um aço, AISI H13, que exige tempera e gera elevada resistência mecânica.

De fato, devido à geometria da peça, extremamente desfavorável, o item em questão tinha risco potencial de ser completamente inutilizado após tempera, devido à intensidade de distorções dimensionais. O item tem um diâmetro de apenas 15 mm na região mais fina, e um comprimento de aproximadamente 700 mm. A previsão teórica da flecha de empenamento, era de aproximadamente 1,05 mm., o que, se confirmado na prática, levaria o componente à sucateamento, uma vez que seria necessário no mínimo 2,10 mm de sobre metal para correção posterior (o modelo para cálculo teórico será discutido no ultimo capitulo deste texto). Importante notar que o sobre metal previsto era de apenas 1,0 mm.

Felizmente, devido aos extremos cuidados durante o tratamento do item, com inclusão de técnicas específicas ( e, diga-se, extremamente trabalhosas e de maior custo!), o empenamento total foi inferior a 0,4 mm., e a peça foi salva, mas, considerando as condições de trabalho da peça, as solicitações mecânicas sobre ela, e a função a que ela se destinava, o projetista poderia tê-la fabricado em, p.ex., aço AISI P20, o qual, pela característica do mercado nacional, já vem pré beneficiado para durezas da ordem de 28/32 HRC (100 kgf/mm2), mais do que suficiente para suportar as cargas em trabalho. Eventuais problemas de desgaste poderiam ser solucionados com, p.ex., tratamento posterior de nitretação ou mesmo, em casos mais severos, revestimentos PVD (ref.5).

A questão torna-se mais importante na medida em que a peça fica maior, havendo grande inércia térmica associada.

A situação demonstrada, de substituir aços, é disponível em geral para a confecção de ferramentas, cuja seleção do aço, fica via de regra a cargo do próprio ferramenteiro, mas para componentes seriados, como peças automobilísticas ou outros itens de grandes séries de fabricação, o aço já vem definido através dos projetos originais (em muitos casos estrangeiros).

Assim, quando a substituição do aço não é possível, torna-se particularmente importante conhecer as características desse aço no mercado nacional, e tentar condicioná-lo da melhor forma possível, objetivando a mínima distorção dimensional.

Condicionamento da Matéria Prima

Novamente, esta variável pode ser dividida em sub grupos, para facilitar a compreensão, como segue:

– “Casca” da matéria prima- Anisotropia dos aços- Condições do projeto “Casca”

Uma vez selecionado o aço mais adequado, cumpre realizar a compra.

As usinas fabricantes fornecem ao mercado o aço ferramenta já no estado recozido, mas nem sempre “sem casca”.

A “casca” do aço, refere-se à camada superficial, remanescente dos processos de fabricação do aço, correspondente, por exemplo, à superfície bruta de laminação. Por ter sido submetida a processamentos a quente, em geral essa “casca” é descarbonetada, além de ter defeitos do tipo “dobras” ou até mesmo trincas.

Assim, na solicitação de compra, deve ser previsto um sobremetal, para que a “casca” possa ser removida.

As usinas de aço fornecem tabelas, com o sobre metal necessário para cada bitola, em função do tipo de aço.

Caso a “casca” não seja removida, ou seja apenas parcialmente removida (p.ex. retífica apenas em um lado da peça), poderá haver uma diferença muito grande de propriedades entre a superfície e o núcleo, alterando significativamente o efeito do tratamento térmico, levando a distorções dimensionais graves ou até mesmo trincas.

No caso de laminados, principalmente chapas de estamparia, as usinas já fornecem devidamente isentas de “casca”, portanto pode não haver muita preocupação nesse sentido, mas para blocos forjados, é absolutamente necessário que o assunto seja devidamente esclarecido entre o projetista e o fabricante do aço. Em caso de dúvida, o ideal é seguir as tabelas indicativas de sobremetal. Nunca confundir este sobremetal com aquele absolutamente necessário para a realização do tratamento térmico. Este caso trata-se de Condicionamento da Matéria Prima, ou seja, é um cuidado necessário na compra dela.

Anisotropia dos Aços

Os aços, assim como qualquer material policristalino, possuem algumas diferenças de propriedades mecânicas, em função da direção. A essa diferença, dá-se o nome de anisotropia.

No caso de barras, esse não é um grande problema, pois não há alternativas para o corte e, em geral, a ferramenta será confeccionada com seu sentido longitudinal paralelo ao sentido longitudinal da barra, já estando naturalmente, na melhor condição em termos de distorções dimensionais de TT.

Entretanto, no caso de blocos, essa passa a ser uma preocupação importante.

A não ser em casos especiais, no qual o bloco é forjado especialmente no formato desejado, os blocos com os quais serão confeccionadas as ferramentas, são tirados de blocos maiores, em geral sem que haja cuidado em relação à direção original de conformação do bloco. A fig. 3 ilustra a situação.

O termo mais comumente empregado para representar essa orientação, é “fibra”, numa analogia com materiais como a madeira, p.ex. Na realidade, tais “fibras”, nos materiais metálicos, são outras fases microestruturais, que vão se orientando numa dada direção, em função dos processamentos mecânicos posteriores à fundição. Tais fases originam-se durante a solidificação do aço.

A direção das “fibras” tem forte influencia distorção dimensional. De fato, a tendência é que haja uma concordância entre a direção das fibras e a direção em que ocorre a máxima distorção. Assim, três blocos idênticos na forma, mas retirados de diferentes direções, tendem a apresentar distorções em direções também diferentes, o que dificulta sobremaneira a previsão do sobre metal necessário para tratamento térmico.

Uma outra implicação adicional, é que há forte influencia da orientação das fibras nas propriedades mecânicas, particularmente nas que são influenciadas pela condição microestrutural do aço, como por exemplo, o alongamento(fig.4).

Como pode ser visto na figura, há uma forte diferença nas propriedades de tenacidade, alongamento e redução de área, em função da direção em que é tomado o corpo de prova (longitudinal e transversal).

O ideal é que, no processo de compra, seja prevista a direção de corte em função da direção de laminação do bloco original, de modo fazer coincidir a direção longitudinal do bloco, com a da ferramenta, e garantir que, no caso de ferramentas similares, essa direção seja sempre a mesma.

Na prática, no entanto, essa condição não é simples de ser obtida, uma vez que raramente a direção original do bloco é conhecida, principalmente quando a compra não é feita diretamente do fabricante do aço.

Condições do Projeto

Em termos de distorções dimensionais, o projetista deve ter os seguintes cuidados na fase de projeto:

• Geometria• Sobremetal para o tratamento térmico

Geometria

Independentemente das dimensões relativas, e mesmo da sua forma geométrica, se a peça acima for submetida a tratamento térmico de tempera, fatalmente haverá uma forte distorção de forma, além da distorção dimensional. (fig.5)

O motivo para isso é bastante simples, e decorre do fato de que a parte mais fina atinge as temperaturas de transformação antes das demais. Assim, ela sofrerá os efeitos que causam as distorções antes do restante da peça.

Essa heterogeneidade de temperaturas tem, como reflexo, diferentes estados de tensões em partes da peça, causando as distorções.

A tendência é que a peça assuma a forma da fig 6, após o tratamento térmico de tempera (sem considerar outras distorções, mesmo nas partes mais grossas da peça).

Evidentemente, nem sempre é possível evitar diferenças de massa em peças reais. Mas sempre que houver necessidade de tratamento térmico, é importante levar em consideração essa questão durante a fase de projeto.

Sempre que possível, procurar balancear as diferentes partes da peça, procurando concordâncias suaves, e diferenças as mais graduais possíveis, é importante para prevenir ou mesmo evitar fortes distorções dimensionais, que podem até mesmo inviabilizar o uso da peça após tratamento térmico.

O exemplo acima não considera o risco potencial de fratura da peça, justamente devido à diferença de massas. A fratura é uma conseqüência natural da distorção dimensional, quando as tensões que a causam atingem valores que superam a resistência mecânica do aço. Para efeito de visualização, podemos considerar que a fratura é um caso extremo de distorção dimensional. Assim, atacar as causas da distorção é também prevenir o surgimento de trincas.

O gráfico da fig.7, ilustra o efeito do chamado “canto vivo” , e sua relação com a resistência a fadiga do aço em função da resistência mecânica (relacionada com a dureza).

A presença excessiva ou desnecessária de “cantos vivos” favorece a distorção dimensional, pelo seu efeito concentrador de tensões, devendo ser evitado ou no mínimo suavizado.

O gráfico da fig 7 ilustra a resistência à fadiga, em função da resistência à tração (dada pela tempera) para diferentes relações Q/d, respectivamente o raio de curvatura em relação à parte mais fina da concordância em uma peça hipotética. Quanto maior Q, em relação à d, maior o raio de curvatura. Para menores raios de curvatura, maior será a intensidade da distorção na região, podendo, no limite, levar à fratura, em função da queda na resistência à fadiga (no ensaio de flexão, por exemplo).

Sobremetal para Tratamento Térmico

Por sobremetal, entenda-se o valor adicional deixado nas dimensões da ferramenta, de modo a permitir retrabalho posterior ao processo de tempera (em geral retífica).

Há, nesse quesito, duas perguntas cruciais:

• Quando deixar sobremetal?• Quanto sobremetal deixar?

A resposta à primeira pergunta é simples: sempre que houver tratamento térmico envolvido.

Como já foi dito, há uma componente da Distorção Dimensional que é inevitável. Assim, a única maneira de “escapar” do problema é deixando sobremetal (ou não executando tratamento térmico de tempera – esta pode ser uma opção em alguns casos – vide Fig. 1).

Quanto à segunda pergunta, a resposta não é tão simples e direta assim. O valor mais adequado a ser deixado de sobremetal depende de uma análise detida das condições existentes e não há, a priori meio de calcular um valor exato para a distorção dimensional.

Durante a análise, é possível, através de alguns modelos matemáticos, aproximar um valor mínimo necessário, mas em escala teórica, e esse valor pode ser usado apenas como uma referência, e nunca como uma especificação.

Sempre que possível, a melhor recomendação é deixar o máximo que for viável, entendendo-se o viável, limitado às máquinas disponíveis e às condições de projeto da ferramenta.

Mais detalhes quanto a esses cálculos serão discutidos nos capítulos subseqüentes do texto, particularmente no trecho que discute as distorçôes inevitáveis.

Usinagem

A fig. 8 ilustra uma peça passando pelo processo de Retífica. Como é do conhecimento comum, a peça a ser retificada é fixada à placa da máquina por meio magnético. Ao término do processo, principalmente para peças delgadas, ao se desligar o magnético da placa, nota-se um movimento da peça, um “empenamento”. Ligeiro ou não, este “empenamento” sempre ocorre, e ele é devido ás tensões introduzidas em uma face da peça pela operação de retífica.

Igualmente, o mesmo fenômeno vai ocorrer para qualquer outro processo de usinagem.

Estas tensões tem origem no aquecimento natural durante o processo de usinagem (que, p.ex. na retífica atinge valores superiores a 1500°C), bem como através da força exercida pela ferramenta, contra a peça de trabalho, a qual, pela lei da Ação e Reação, “reage” ao estímulo externo, gerando uma força de igual intensidade e direção oposta.

Tais tensões são inevitáveis, pois são parte intrínseca do processo de usinagem, mas abusos devem ser evitados, através do correto uso das variáveis de usinagem, dentre as quais são destacados:

• Ferramenta adequada• Parâmetros de usinagem adequados (velocidade de corte, avanço)• Fluidos de corte adequados (para refrigeração), incluindo-se aqui a sua correta aplicação, em termos de velocidade de posição de aplicação

A fig. 9 ilustra duas situações de “usinagem abusiva”, gerando superfícies de corte danificadas, as quais, caso sejam mantidas na peça que será enviada para tratamento térmico, fatalmente gerarão problemas de distorções dimensionais, ou, no limite, trincas.

Na figura nota-se claramente o dano causado à superfície da peça, na forma de uma trinca, claramente delineada na região endurecida devido ao superaquecimento.

Outro ponto interessante é o perfil de durezas encontrado, desde a superfície (63HRC evidenciando o superaquecimento), passando por 49 HRC, mostrando uma região “amolecida” devido ao aquecimento, até a dureza de 51HRC, na região do núcleo, a qual corresponde à dureza original.

Uma outra questão que se coloca, quando se fala da influencia da usinagem nas distorções dimensionais, refere-se à simetria da usinagem. Sempre que possível, deve-se introduzir as tensões na peça da forma simétrica, igualando as tensões em todas as faces da peça de trabalho.

Durante o processo de tratamento térmico, a peça como um todo será aquecida, da forma mais uniforme possível. Assim, se partes da peça estiverem num estado de tensões diferente de outras, esta região terá uma maior interação entre o calor do tratamento e estado local de tensões, tendo reações diferentes, o que agrava a distorção resultante. Assim, se, p.ex., for feita uma redução de 2,0 mm na espessura de uma peça (não cilíndrica), o ideal é que a usinagem seja executada em duas etapas, com 1,0 mm de remoção de cada vez, em cada uma das faces.

Outras Causas – Processamentos Térmicos Anteriores

Ainda dentro do estudo das causas externas ao tratamento térmico, que afetam a distorção dimensional final na peça após tratamento térmico, podemos citar aqueles que, dentro de suas características, causa aquecimento, local ou não, do componente.

Este aquecimento, dentro do regime elástico, causa dilatação/contração do aço, gerando tensões que posteriormente poderão afetar o resultado de distorções no tratamento térmico.

Podemos citar operações de soldagem, oxi-corte, e processamento mecânico a quente (forjamento).

Não faz parte do objetivo deste texto discutir os processos detalhadamente, mas,em principio, qualquer processamento que crie variações de temperatura apreciáveis na peça, deve ser cuidadosamente aplicado, dentro da melhor prática, e sempre tendo em mente que falhas ou displicência nestes processos podem levar a distorções excessivas no tratamento térmico posterior.

Em geral, após soldagem ou oxicorte, recomenda-se a aplicação de uma etapa de tratamento térmico de recozimento, com o objetivo de reconstituir a microestrutura do aço o mais próximo possível da original, e também reduzir o nível de tensões introduzido.

O tratamento térmico denominado alívio de tensões, tem grande utilidade também, por ser relativamente barato e rápido, para prevenção de distorções dimensionais após Soldagem parcial (localizada), e usinagem pesada (desbaste) em peças de geometria complexa.

Alívio de tensões para prevenção de distorções dimensionais

Aplicação

1. Sempre antes da etapa de tempera, para reduzir as tensões originadas na usinagem;2. Sempre que houver remoção de material superior a 40% em massa (principalmente para blocos);3. Sempre que a geometria for muito desfavorável, em termos de variações de massa e presença de cantos vivos.

Ciclo Básico
Limitações do processo

Para o caso de aços endurecíveis por precipitação, é absolutamente necessário consultar o profissional de tratamento térmico, para que não haja problemas de dureza após o endurecimento. Nesse tipo de aço, o endurecimento ocorre após dois tratamentos: Solubilização e Envelhecimento.

Usualmente, essa classe de aços é fornecida pelas usinas no estado já Solubilizado, com durezas da ordem de 30 HRC. Assim, ciclos de alívio de tensões nesse tipo de aço não são recomendados;

Esse tipo de tratamento também deve ser previsto no caso de peças soldadas que vão sofrer tratamento térmico de tempera posteriormente, ferramentas que sofreram Eletro Erosão, Retífica severa, e em alguns casos de peças fabricadas por fundição, de modo a aliviar as tensões de solidificação.

Sequência

Não há sentido em aplicar o tratamento de alívio de tensões para prevenção das distorçòes dimensionais, sem que seja prevista uma etapa de usinagem, antes da têmpera. De fato, o próprio alívio de tensòes vai induzir uma distorção dimensional, de intensidade diretamente proporcional ao nível de tensões imposto pela usinagem, que vai se somar às distorçòes que surgirão na tempera posterior. Assim, é necessário que seja prevista uma etapa intermediária de usinagem, deixando sobremtal mínimo para a têmpera.

Exemplo de aplicação(esquemático)

1. Peça em aço AISI H13, para tempera a vácuo, dureza de 50/52 HRC;2. Dimensões: 200 x 150 x 20 mm;3. Matéria prima disponível: 24 mm de espessura;4. Nas condições acima, prevê-se um desbaste de 4,0 mm na espessura da peça, até a dimensão final;5. O cálculo teórico mostra que um sobremetal de 0,5 mm na espessura será suficiente, para um processamento de tempera a vácuo.

Para garantir, que o sobremetal de 0,5 mm seja suficiente, é necessária a aplicação de um ciclo de alívio de tensões previamente à tempera.

N.A.: o termo garantir é inadequado, uma vez que outras variáveis, não contempladas nesta análise estão presentes (serão objeto de estudo em capítulo posterior). Então não há como “garantir”, mas o procedimento é indispensável para reduzir o risco ao mínimo.

A pergunta é: quando e em que condições fazer o alívio?

Para o caso de aços endurecíveis por precipitação, é absolutamente necessário consultar o profissional de tratamento térmico, para que não haja problemas de dureza após o endurecimento. Nesse tipo de aço, o endurecimento ocorre após dois tratamentos: Solubilização e Envelhecimento.

Esquemáticamente, temos:

Observando na fig. 11, do estado inicial com 24 mm de espessura, executamos um PRÉ DESBASTE, removendo a maior parte do sobremetal (3,0 mm), levando para 21 mm de espessura. Nesse estado, pode-se dizer que a intensidade da tensão de usinagem é proporcional à remoção de 3,0 mm, as quais chamaremos de T3.

Nesse ponto, é feito o alívio de tensões, que removerá as tensões T3, para efeitos práticos eliminando-as totalmente.

Não há sentido em aplicar o tratamento de alívio de tensões para prevenção das distorçòes dimensionais, sem que seja prevista uma etapa de usinagem, antes da têmpera. De fato, o próprio alívio de tensòes vai induzir uma distorção dimensional, de intensidade diretamente proporcional ao nível de tensões imposto pela usinagem, que vai se somar às distorçòes que surgirão na tempera posterior. Assim, é necessário que seja prevista uma etapa intermediária de usinagem, deixando sobremtal mínimo para a têmpera.

Na etapa seguinte, levamos a peça à um novo desbaste, desta feita, removendo 0,5 mm apenas. Novamente, teremos o surgimento de tensões, as quais denominaremos T0,5. É intuitivo que T0,5<<T3.

Assim, temos a peça pronta para a tempera, com sobremetal de 0,5 mm conforme projetado, mas com tensões de usinagem proporcionais a apenas 0,5 mm de remoção.

Nessa situação ideal, as distorções dimensionais, igualmente diretamente proporcionais às tensões de usinagem introduzidas serão menores.

Importante notar que a opção que demanda menor tempo (e algum custo a menos), é simplesmente remover todo o sobremetal de uma só vez (4,0 mm) e enviar para tratamento térmico. Esta é uma situação típica, a qual envolve nenhum cuidado com a questão da distorção dimensional. Nesse caso, o risco de perda irremediável da peça é potencial, uma vez que as tensões envolvidas são muito mais intensas.

Igual raciocínio, embora sem a mesma possibilidade de quantificação, pode ser desenvolvida para, p.ex., soldagem ou mesmo oxicorte, levando á conclusão de que, sempre que tais processamentos estiverem envolvidos, deve ser prevista uma etapa de alivio de tensões.

Conclusão

Este capítulo tratou das principais causas externas ao tratamento térmico, que tem influencia direta na distorção dimensional resultado do processo de têmpera.