É comum que propostas desenvolvidas pelas universidades desagradem ao setor industrial, o qual, por vezes, nem mesmo apresenta contraproposta
Não raramente, atividades de parceria ou convênio entre instituições privadas e instituições públicas de ensino e pesquisa são interrompidas antes mesmo da celebração de um contrato. É comum que propostas desenvolvidas pelas universidades desagradem ao setor industrial, o qual, por vezes, nem mesmo apresenta contraproposta. Por outro lado, setores da indústria que já compreenderam os benefícios desse tipo de colaboração, ao sugerir e elaborar pré-propostas, podem ter dificuldades para convergir seus objetivos com institutos de pesquisa.
Todo país desenvolvido tem a ciência e a tecnologia como alguns dos pilares fundamentais para a geração de oportunidades às empresas e aos seus cidadãos, culminando com a alta competitividade no comércio internacional. Ao se estudar essas relações de sucesso, é fácil compreender que esses países já possuem um enorme aprendizado organizacional, buscando um fortalecimento efetivo das suas parcerias via incentivos governamentais, centrados na concepção de um projeto de desenvolvimento organizacional.
Na coluna da última edição, descrevi as principais vantagens para o desenvolvimento organizacional com referência ao novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação. O setor legislativo percebeu que a forma como as pesquisas são incentivadas e financiadas no Brasil, alicerçada em instituições públicas de fomento, não é sustentável. Nesse caso, a sustentabilidade está diretamente relacionada à transferência de tecnologia para todo o parque industrial.
A pesquisa e a inovação acadêmica, em sua maioria, não geram aplicação direta ou mesmo são trabalhada para se tornarem comerciais, sendo necessário modificar essa rota com fins ao crescimento econômico. Logo, novas medidas de incentivos, como a redução de impostos e a possibilidade de retenção da propriedade intelectual por parte da empresa, a partir de contratos de convênio com centros de pesquisa, foram estabelecidas com o objetivo de alavancar as relações de parceria.
“Todo país desenvolvido tem a ciência e a tecnologia como alguns dos pilares fundamentais para a geração de oportunidades às empresas e aos seus cidadãos, culminando com a alta competitividade no comércio internacional”
Ainda hoje, várias discordâncias dificultam a criação e a manutenção da aliança entre empresa e universidade. Fatores como as diferenças de cultura, a natureza dos objetivos ou dos produtos gerados pelo relacionamento e os choques inesperados no ambiente das relações podem constituir fontes para essas discordâncias. Em geral, uma parte possui dificuldades para compreender como o trabalho é desenvolvido na outra parte, não sendo familiarizada com as metodologias e as fontes de investimento dessa outra parte.
As diferenças culturais são, normalmente, manifestadas com relação ao horizonte de planejamento, à diferença de linguagem a até mesmo de ambiente de trabalho. As universidades têm por referência um período de longo prazo e não muito bem definido. Já as empresas se estabelecem em cronogramas e cumprimento de metas, necessitando de atividades em curto prazo, sempre voltadas para um contexto de ambiente competitivo.
Com relação ao tipo de linguagem, uma se preocupa com a codificação do conhecimento, enquanto a outra está focada no conhecimento direcionado à geração de produtos.
Finalmente, quanto ao ambiente de trabalho, além da estrutura física, as diferenças se baseiam na fonte de força motivacional. Na universidade não há a compreensão do mercado e suas demandas, sendo a reputação no meio intelectual o fator de maior importância. No ambiente industrial, a motivação é pautada por avaliações de desempenho e o referencial crítico é o superior hierárquico.
Enfim, a boa notícia é que cada vez mais profissionais de ambas as partes têm compreendido a maneira de trabalho em uma parceria. Universidades têm contratado professores com experiência industrial e profissionais do setor privado têm se dedicado cada vez mais ao desenvolvimento acadêmico. Os incentivos públicos e a mudança no comportamento dos colaboradores vêm proporcionando um aprendizado organizacional no Brasil, ou seja, aprimorando ações de comunicação entre setores, geração de conhecimento técnico e uma consequente disponibilização de tecnologias aplicáveis.