Entende-se por “alta tecnologia” toda a engenharia baseada em conceitos de fronteira, ou seja, que contém inovações tecnológicas. Especialmente nos tempos atuais, com intensa globalização econômica, o desenvolvimento de alta tecnologia é considerado uma área estratégica na promoção eficiente da economia nacional. Essa condição pode assegurar uma capacidade competitiva internacionalmente. Sendo assim, quais seriam os fatores-chaves que afetam o desenvolvimento de altas tecnologias?
Nos anos 80, os pesquisadores Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff apresentaram nos Estados Unidos o fenômeno definido como Tríplice Hélice (Triple Helix). Eles tinham como objetivo tentar explicar os princípios de um modelo base na promoção do empreendedorismo, do crescimento global e da inovação, seja em nível nacional ou internacional. Mostraram, portanto, que o modelo da Tríplice Hélice retrata de forma integrada e detalhada o processo de inovação como resultante da relação complexa e dinâmica de experiências nas áreas de ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento nas universidades, nas empresas e nos governos, em uma espiral de “transições sem fim”.
Existem três tipos básicos de configurações do modelo da Tríplice Hélice em todo o mundo. Um desses tipos considera que os elementos “indústria” e “universidade” existem de maneira independente e sem interação. Nesse caso, o “governo” desempenha um papel dominante de intermediação, assegurando a maior parte das ocorrências de relações entres os setores (Fig. (a)). Existe um consenso de que esse primeiro modelo reflete a situação em países que formaram a União Soviética e em alguns países da América Latina. No Brasil, não é difícil constatar que a grande maioria dos projetos envolvendo universidade e indústria é impulsionada por leis e incentivos públicos, como já discutido nesta coluna em edições anteriores.
Outro tipo do modelo em questão estabelece uma relação mútua entre todos os elementos (Fig. (b)) sem, no entanto, influenciar na geração de novas ideias, na criação de inovações e no desenvolvimento de altas tecnologias. Pode-se dizer que este modelo é típico de uma sociedade como a dos Estados Unidos, estabelecendo relações entre diferentes esferas, sendo que cada uma exerce um papel independente e focado em sua própria área, não refletindo de fato os benefícios das relações entre eles. Por último, um terceiro modelo da Tríplice Hélice enxerga os seus elementos em estreita cooperação, não distinguindo a importância de cada esfera (Fig. (c)). O consenso, desta vez, estabelece esse modelo como típico da Europa e de países que demonstram um rápido crescimento econômico. Alguns incluem também os Estados Unidos nesse modelo.
A caracterização de um destes três sistemas para uma determinada sociedade depende não somente das metas estabelecidas nas áreas da ciência e da pesquisa e desenvolvimento, mas também da situação política e socioeconômica do país. O primeiro modelo, apresentando apenas um elemento dominante, é geralmente mais apropriado a países com grande influência das autoridades, nos quais o governo define as prioridades no desenvolvimento industrial e fornece ferramentas financeiras para isso. O segundo modelo, definindo as esferas institucionais separadas entre si, é aplicável a países com grande população e complexo sistema de institucionalização, como federações e confederações. Esse modelo permite uma boa gestão de investimentos, sendo alocados satisfatoriamente na indústria e na academia. Finalmente, o terceiro modelo, dispondo os elementos de maneira sobreposta, propicia o maior grau de cooperação entre as suas esferas. É típico de países com ambientes econômico e político estáveis e comercialização internacional incentivada e livre de impedimentos. Essa última forma de Tríplice Hélice facilita a solução de todos os problemas na implementação de inovações via comunicação e negociação.
Na promoção do desenvolvimento de alta tecnologia, baseada no modelo com elementos sobrepostos, é essencial que cada esfera desempenhe o seu papel de maneira a interagir com as outras. Com relação ao Brasil, não chegamos lá ainda. O aprimoramento do sistema passa, necessariamente, pela ação empresarial em investir e acreditar em projetos junto às universidades, sem a necessidade de mediação e/ou incentivo por parte do governo.