Liderança é, muitas vezes, considerada como uma via de mão única, de cima para baixo. O líder lidera e os seguidores seguem. Esta é uma visão simplista que durante muito tempo foi considerada como definição de liderança. Evidências mostram que a liderança acontece nos 360°, de cima para baixo, de baixo para cima e para os lados. Líderes 360° não comandam por posição ou poder, eles lideram por influência. Como o assunto é extenso, decidi dividi-lo em três partes. Nesta parte I abordei a forma de liderança mais corriqueira, aquela de cima para baixo. Ao observar a atuação de diversos líderes empresariais, percebi que os bem-sucedidos não tentam ajudar as pessoas a superar pontos fracos, eles apostam nos talentos e ajudam as pessoas a descobri-los em si. O líder 360° aprecia agregar valor às pessoas. Porém, para agregar valor a alguém, é necessário saber o que ele valoriza. Para saber o que a pessoa valoriza, é necessário saber quem ela é. Para saber quem a pessoa é, faz-se necessário reservar um tempo na agenda para este fim.
Atenção concentrada exclusivamente no objetivo, nas reuniões e na ação, negligenciando o valor das relações pode acarretar um grande prejuízo à liderança. Isto é muito comum porque o líder precisa concluir aquilo a que se propôs. Às vezes o gestor se sente tentado a fazer tudo sozinho, do seu jeito. O trabalho flui mais rápido, mas ele se sobrecarrega. Lembro-me de um profissional com o qual tive a oportunidade de compartilhar a experiência. Foi contratado pela notória competência técnica para uma posição de liderança. Em certa ocasião, observei a forma como ele fazia o seu trabalho. Era rápido, preciso e responsável, mas não reservava tempo para as pessoas. O exercício de treinar os colaboradores, direcioná-los, acompanhar seus desempenhos e corrigir-lhes a rota deixava-o exausto e estressado. O líder geralmente tem muita energia e uma mente muito ágil. Nem sempre os seus seguidores processam informações com a mesma velocidade. Assim, além da competência, o líder precisa adequar-se ao ritmo das pessoas. Dessa forma ele obterá a sintonia com elas.
O líder diminui o ritmo o suficiente para observar, “ouvir” as palavras não ditas e “ler” aquilo que está nas entrelinhas. Executar tudo sozinho pode ser mais rápido no início, porém, nem sempre promove o retorno adequado. Ótimos isolados costumam ser menos eficazes do que equipes bem orquestradas. Selecionei algumas dicas para o exercício da liderança de cima para baixo:
Dica 1: Escolha as pessoas certas para as posições certas. Esta aderência tornará tudo mais fácil;
Dica 2: Após a escolha, confie nas pessoas, delegue. Se você esperar o melhor delas, elas se esforçarão para lhe dar o melhor;
Dica 3: Remunere os profissionais adequadamente, de modo que se sintam recompensados e que continuem a fazer bem o que estão fazendo;
Dica 4: Nunca prometa o que não poderá cumprir. Faça poucas promessas e cumpra todas;
Dica 5: Lembre-se de que você está sendo observado sempre. O que você que faz, o que diz e o modo como diz carregam mensagens que são captadas pelos colaboradores. Estudos mostram que 93% da comunicação humana é não-verbal. Estes sinais afetam o desempenho da equipe;
Dica 6: Trate os diferentes de forma diferente. As pessoas apreciam ser únicas e inconfundíveis;
Dica 7: Conheça quem são seus colaboradores;
Dica 8: Ajude cada colaborador a ser mais daquilo que já é. Ajude-o a expressar seu talento, na potencialidade máxima. Se você não conseguir encontrar de imediato uma habilidade que possa ser desenvolvida, não esmoreça. Verifique outras áreas que podem ser exploradas como disciplina, perseverança, atitude e comprometimento. O importante é encontrar algo positivo;
Dica 9: Reconheça que existe limitação para mudar radicalmente as pessoas;
Dica 10: Seja congruente.
Líderes que se preocupam somente com os negócios muitas vezes acabam perdendo as pessoas e os negócios. Existem casos clássicos de grandes empresas, com muitos anos de existência e liderança no mercado, que viram tudo ruir por negligenciarem a gestão de pessoas. Na próxima edição abordarei a liderança de baixo para cima.