Nesta edição, gostaria de convidá-los para uma revisão da situação brasileira atual referente à capacidade de inovar, vista de uma ótica tecnológica, como por exemplo a estratégia nos campos de P&D no setor da mobilidade. Recentemente, a indústria automotiva está lidando com uma questão estratégica no fomento de P&D como uma meta do programa brasileiro Inovar-Auto.
No entanto, o Brasil não tem, em parte pelas marcas presentes, uma indústria nacional de novos desenvolvimentos de veículos, e sim unidades alocadas com controle a partir de uma matriz estrangeira e, certamente, o “know how” e o dever de criação estão protegidos na matriz, e isto faz parte da sua essência e preferência. A pergunta que fica nesta questão é referente a como as empresas deste setor estão lidando com este tema, e a reposta certa é que “não temos um racional”, todavia, entendo que o setor está criando planos.
Parte das engenharias locais foca, principalmente, na tropicalização e pequenas alterações de produtos, todavia, em referência aos entendimentos iniciais do programa Inovar-Auto, poderiam ser usadas, em parte, como caráter de P&D nas tratativas dentro do programa para atender e ter retorno aos incentivos fiscais, mas o campo “criação”, baseado nos conceitos de P&D básicos foi entendido como uma prática incorreta.
Avançando no tema e debatendo o lado de recursos locais para criação, percebemos que este setor, no Brasil, não atende na plenitude a uma estrutura de laboratórios adequados e, também, à formação de especialistas na geração de conhecimento novo, pois o que temos são profissionais adaptados para a rapidez de resposta e uma diversidade de conhecimento, típicos da característica brasileira.
A situação inédita que estamos vivendo e o perfil nacional criado pelas empresas abriram uma enorme porta de oportunidades no campo de P&D que devem ser exploradas das mais diversas formas, porém, o foco na criação não pode ser perdido ou mascarado por uma política ofensiva. Ou seja, temos que fazer porque é necessário criar, e não apenas para atender a uma regra da necessidade atual do programa brasileiro, visando aos incentivos fiscais.
Dentro desta situação, nota-se a necessidade de orientações e aprendizados para nos direcionar ao melhor caminho da criação para investirmos precisamente nas melhores formas, sendo elas a valorização do pesquisador e priorização dos laboratórios, e não criar uma estrutura medíocre e ineficiente dentro deste campo. Neste sentido, este amplo debate deve ser entendido como um fator importante nas decisões estratégicas nos diversos meios, nos quais o futuro de nosso país e as gerações de pesquisadores precisam ser alinhados, para que esta discussão seja interpretada como uma grande oportunidade brasileira para as futuras gerações de pesquisadores, focados nas aplicações práticas e que poderão desfrutar de um ambiente favorável de P&D e, assim, dar ao nosso país uma posição de destaque no futuro.
No sentido de situar nossos leitores quanto às tendências brasileiras, as empresas do setor automotivo começaram a seguir três nítidas estratégias: a primeira, o investimento dentro de sua casa, privilegiando equipamentos e laboratórios; a segunda, um investimento laboratorial fora de casa, em instituições; e a terceira, mais comum, a compra de P&D no sentido de alocar recursos financeiros para converter em tecnologias novas nos projetos desenvolvidos por universidades e institutos.
Em vista das trajetórias traçadas anteriormente, podemos entender uma parte importante das ações que estão atuando de forma estratégica e política neste campo em nosso país e, assim, poder explorar de perto os diferentes segmentos de P&D, os quais devo tratar nas próximas edições da IH.
Até breve.