O sobrenome não deixa margem a dúvidas: trata-se de parente de Hubertus Colpaert, autor do famoso livro Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns, impresso pela Editora Blucher Ltda, de São Paulo. Flávio Colpaert, filho mais novo de Hubertus, é engenheiro mecânico pela FAAP e mora em São Paulo. Seu irmão mais velho tem o mesmo nome do pai, é geólogo e mora no Rio de Janeiro.
Hubertus Colpaert nasceu em 1901 na cidade de São Paulo. Era filho de Alfredo Colpaert, que veio com a família para o Brasil no final do século XIX e era casado com Martha Seidel, de origem austríaca. Hubertus tinha facilidade para línguas, falava inglês, francês e alemão e em 1921 bacharelou-se em Ciências e Letras, pelo Ginásio do Estado de São Paulo. Mas a influência da atividade do pai, que era topógrafo, foi decisiva para ele procurar o curso de Engenharia Civil, ingressando na Escola Politécnica de São Paulo em 1924.
Seu pai e avô eram belgas e trabalhavam em uma empresa de construção de pontes metálicas da Bélgica, envolvida com os projetos de construção da Ponte Pênsil de São Vicente e do Viaduto Santa Ifigênia, entre outras obras civis no Brasil. Nesta época a construção civil era a atividade em franca expansão em nosso país demandando a necessidade de criação de instituições de ensino e de pesquisa necessários para a substituição de importações. Neste sentido, em 1899, Antônio Francisco de Paula Souza, também fundador da Escola Politécnica, criou o GRM, Gabinete de Resistência dos Materiais, que tinha por objetivo pesquisar materiais e auxiliar tecnicamente a iniciante indústria da construção civil. O GRM estava localizado ao lado da Escola Politécnica, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo.
De 1906 a 1917 o GRM foi chefiado por Hyppolito Gustavo Pujol Júnior, engenheiro arquiteto formado na primeira turma da Escola Politécnica. Introduziu a metalografia no GRM em 1907. Este laboratório se dedicaria, por exemplo, aos ensaios metalográficos do comportamento de ferros de construção em concreto armado da construção civil. Também foram ali efetuados estudos de tratamento térmico em tubos de ferro fundido da canalização de água da cidade de São Paulo, na década de 1910.
Em 1926 Hubertus Colpaert foi admitido como estagiário no GRM, e, em 1927, contratado como auxiliar de laboratório. Ary Torres, diretor do GRM neste período, sugeriu a ele se dedicar à área de metalografia, então ainda bastante incipiente. Nesta época o Gabinete de Resistência dos Materiais também se dedicava a atender às empresas ferroviárias, com crescentes necessidades de fornecimento de soluções metalúrgicas. Quando se formou em Engenharia Civil em 1928, Colpaert assumiu a chefia da seção de Metalografia Microscópica do GRM, que na verdade se resumia a duas pessoas, ele e um assistente. Flávio conta que seu pai conheceu a sua mãe, Maria de Lourdes Prado, neste laboratório em que trabalhava, onde a havia contratado como datilógrafa. Eles casaram em 1936.
Em 1931, sob o comando do engenheiro Ary Torres, o Gabinete teve seu nome alterado para LEM, Laboratório de Ensaios de Materiais. Ele havia sugerido em 1926 a ampliação das atividades do GRM, dando mais ênfase às pesquisas tecnológicas. A ampliação foi aprovada pela escola e ele convidado a assumir o cargo de Diretor. Em 1934 ele transformou o LEM em IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas. No final da década de 40 o IPT foi transferido para a Cidade Universitária, no bairro paulistano do Butantã, onde se encontra até hoje.
A segunda guerra mundial, entre 1939 a 1945, fez com que as importações brasileiras fossem prejudicadas e forçava o desenvolvimento de novos mercados. A inauguração da CSN, Companhia Siderúrgica Nacional, em 1941, trouxe novas perspectivas para a indústria nacional. O Brasil entrava em uma época de desenvolvimento e desafios eram colocados ao IPT. Colpaert via cada vez mais ampliado o leque de oportunidades que se abria para o seu setor de metalografia. Em 1948 foi criada a Divisão de Metalurgia, com Colpaert sendo responsável pelo setor de Ensaios de Metais.
Ao longo de seus estudos e pesquisas as anotações de Hubertus Colpaert foram se avolumando, sendo compilados pelo IPT no Boletim IPT N° 40. Revisado por Alberto de Albuquerque Arantes, estas anotações foram publicadas como livro em 1959 por Edgar Blücher em sua Editora Blucher sob o título Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns. Atualmente na quarta edição, revista e atualizada por André Luiz V. da Costa e Silva, o livro continua sendo referência no setor.
A caminho do ônibus que o levaria a ser jurado no Fórum João Mendes, na cidade de São Paulo, Hubertus Seidel Colpaert faleceu em um acidente com trem perto do IPT. Conforme Flávio, era uma chuvosa manhã, em 16 de Janeiro de 1957. Tinha 56 anos e deixava um importante legado à metalurgia, e, com certeza, também ainda uma grande contribuição para dar a então iniciante indústria do tratamento térmico em nosso país.