Quando redes sociais não atuam como redes

Sinceramente? Alguns sites de relacionamento, principalmente aqueles com foco na dimensão profissional, estão ficando chatos! Esta é minha opinião. Já não me chamam tanto a atenção e venho acessando-os cada vez menos. Por força de ofício continuo visitando-os. E, certas vezes, após o “log out” (ao desconectar-me), desponta aquele sentimento de perda de tempo. Cada vez mais, as vinte e quatro horas do dia estão se tornando insuficientes para tantos papéis e tarefas que devemos dar conta: somos filho(a), pai/mãe, marido/esposa, amigo(a), colega, parceiro(a), fornecedor… Precisamos continuar competitivos, produzir cada vez mais (e melhor), participar de reuniões, visitar clientes e parceiros, atender o celular, ler (e responder) e-mails, preparar relatórios, preencher planilhas, construir diferenciais, inovar, gerar resultados cada vez mais expressivos, manter os números atualizados e na ponta da língua, informar-se sobre o que anda acontecendo na atualidade, ler o livro do momento e/ou as revistas que seus pares também leem (ou dizem que leem), visitar feiras de negócios, aprender coisas novas, consolidar e divulgar nossas competências, compartilhar experiências, investir no networking, aprender mais uma língua estrangeira, conhecer novos aplicativos para nossos gadgets, entender de bites, megas, gigas, hd’s, ram’s, fazer trabalho comunitário, participar das atividades de nossa associação de classe e defender nossos interesses. Além de malhar, cuidar da saúde, abastecer a dispensa, reparar quando a companheira cortou um dedo do cabelo (e verbalizar o quanto ficou linda!), levar o carro para manutenção, fugir do trânsito, pagar prestações, levar o cachorro para passear, pensar no futuro, dormir! – será que dá? E queremos (e necessitamos) passar momentos agradáveis com nossa família! E, se conseguirmos a proeza de ser feliz, com toda esta lista, ao menos ficaria o sentimento de que nem tudo foi em vão! Creio que, em grande medida, esta é uma agenda comum a muitos (mesmo que nem todos tenham cachorro, por exemplo). Então por que, diante de tantas coisas à nossa espera, vamos “perder” nossos preciosos minutos lendo “anúncios” na página inicial da rede social, postados por nossos “amigos”?

Sabemos que quando os negócios não andam bem precisamos sair a campo, prospectando novos clientes e resgatando os inativos. Investir na divulgação de seu empreendimento é uma alternativa válida e muito importante – nos dias de hoje, algo imprescindível! Mas, sair publicando a todo instante, em sua timeline, posts divulgando seus produtos e serviços é uma estratégia equivocada. Eu sei que a tentação é muito grande. Além de uma tarefa relativamente simples, a postagem é gratuita (e tem muita gente fazendo isto). Aqui se aplica aquele ditado popular que “o barato sai caro”. Eu diria que ficar publicando anúncios, indiscriminada e ostensivamente, é um tiro no pé. O efeito será o contrário, ou seja, outros usuários que estão ali em busca de conteúdo irão se distanciar de você. Afinal, o que você agrega a ele? O que faz alguém investir seu precioso tempo – como apontamos, no início deste artigo – lendo aquilo que você inseriu? Ou façamos a pergunta de outra maneira: qual o estímulo que você tem em abrir seu jornal, ao menos uma vez por dia, para ver a seção de classificados, caso você não tenha interesse em adquirir nada? Quer um exemplo? Pegue um grupo de discussão aberto. A maioria dos posts inseridos como “discussão” consiste em propaganda de um serviço ou de um produto (do tipo: “faço tal coisa” ou “vendo tal coisa, consulte-me”). Às vezes é pura divulgação da existência de outro grupo de discussão ou de um blog. O indivíduo ingressa dentro de um grupo e fica a todo instante convidando os demais membros para o grupo dele. Eventualmente, alguns nem percebem que estão ultrapassando o limite ético. Sem contar que o camarada que teve o trabalho de abrir o grupo, aglutinar pessoas e mantê-lo interessante, não ganha nada com isso. Em uma revista, a princípio, ou o fato é relevante ou não tem espaço como matéria. Ou então, é preciso pagar para publicar um anúncio. Em um evento, é preciso ser patrocinador para aparecer e se dirigir àquele público. Por que a internet tem que ser o lugar da esperteza? É grátis, não paga nada para inserir a nota, mas, como dizem, “queima o filme” totalmente. Qual a eficácia desta ação? Não seria mais inteligente levantar realmente um tema para o debate a partir de uma pergunta técnica, por exemplo? Se a pergunta ou as várias perguntas possíveis de postar forem boas vai despertar a atenção para um contato. O nome disso é contribuição. Quem encontrar afinidade com sua ideias, quem enxergar valor em suas considerações, vai acabar distinguindo você dentre outros elementos do grupo. Possivelmente, vai visitar seu perfil e ver o que você faz para ganhar o pão. Sua formação, outras de suas postagens. Os grupos a que pertence, seus contatos, o conteúdo de sua “timeline” diz muito mais do que aquilo que você inseriu na sua apresentação, na plataforma. Algo do tipo: “diga-me com quem andas que direi quem és”.

A web 2.0 é viva, dinâmica! Não pode se tornar um ambiente onde todos falam e ninguém ouve. Não faz sentido. Onde fica a interação, o compartilhamento e, sobretudo, a colaboração? Existem colegas que explicitam, de tal maneira, que sua participação é tão pontual – direcionada a divulgação de seu negócio ou blog – que deixa claro ser este seu único propósito. Dentro deste raciocínio eu passo a ser interessante a estas pessoas apenas, caso eu seja, um potencial cliente. É quase uma relação monetária. Networking funciona se houver fluidez, se houver diálogo permanente. Procurar por alguém quando a água já subiu até a altura da cintura não é eficaz. É trabalhoso, porém, a vida é assim. Por que dentro de um site de relacionamento seria diferente? Entender que são ferramentas – para entre outras possibilidades – favorece a aproximação, unindo os pontos e viabilizando o trânsito da informação, é imperativo. Consolidar o vínculo para que ele esteja amadurecido no momento em que surgir uma demanda depende da inteligência ao longo do percurso. A colaboração será natural. Particularmente, procuro ser flexível. Entretanto, quando os posts de divulgação passam a ser ostensivos, é preciso tomar medidas mais efetivas e o “unfollow” (deixar de seguir) passa a ser considerado como alternativa válida. Tem alguns que “falam” (postam) demais. Eu nem bem faço o login e só dá ele na tela. É chato! Posso estar interessado no livro que a pessoa está lendo ou mesmo em algo mais lúdico, como na música que está ouvindo ou nos lugares que possa indicar – já descobri coisas excelentes por este caminho. Como em um bate-papo, em um happy hour. Gosto quando compartilham notícias – já soube de algo relevante primeiro por uma rede social, que consegue ser mais rápida que a TV. Geralmente, assuntos muito segmentados não têm muito espaço na grande mídia. Gosto de seguir/adicionar pessoas de diferentes áreas – suas considerações me ajudam a “pensar fora da caixa”. Possuem perspectivas diferentes e podem trazer soluções, portanto, diferentes e melhores que as minhas. Sim, gosto de ficar a par de seminários e workshops. Já fui a vários a partir de um post e foram ótimos. Vejo como oportuno quando as pessoas expressam opiniões sobre temas polêmicos. Desta forma, passo a conhecê-lo melhor e saber se nossa visão de mundo está alinhada (o que pode ser arriscado, é verdade, já que é possível explicitar uma preferência justamente oposta ao de seu cliente).

Tenho certeza que por vezes também cometo pecados e me policio bastante. Claro que eu poderia pensar: “me segue quem quiser e lê quem quer”, mas e meu desejo, meu propósito de compartilhar informações e ideias interessantes que agreguem? Vamos refletir duas vezes (ou mais) acerca daquilo que compartilhamos. Grandes empresas do varejo estão investindo pesado em ações inteligentes para capturar o interesse e a aceitação do internauta. Já perceberam que a web é um canal que possui especificidades, completamente diferentes dos outros (tv, rádio, jornal, revista etc.). Principalmente se for uma plataforma com foco profissional, o que você tem compartilhado agrega ou satura e polui? Vale registrar novamente: cada vez mais companhias pesquisam a atitude (e não apenas confirmam dados) dos candidatos às suas vagas nas redes sociais. Penso que talvez haja uma luz no fim do túnel. Como os sites de relacionamento são ferramentas novas, ainda estamos aprendendo a utilizá-las. Tal qual o e-mail no passado recente, que era utilizado para passar correntes com aquelas apresentações (power point) intermináveis sobre algum assunto de almanaque. Hoje, parece que isso já não é mais tão comum. Não sei ao certo se foi devido a uma postura crítica ou se porque esta prática acabou migrando para a timeline, dentro das redes. Contudo, acredito que o amadurecimento pode ser alcançado com o passar de algumas primaveras. Para minha alegria, como vivemos na era da velocidade, certamente não será com o passar dos séculos.